Day-to-Day

Far Cry 3: Blood Dragon.

June 9, 2014

Esse post foi escrito em 11 de Maio de 2013, e modificado agora, para servir como review do jogo!

Não é segredo que quando você quer brincar com alguma coisa, é fundamental chutar o pau da barraca. Se você faz meio brincadeira, meio sério, vai ter gente achando que era pra ser sério e ficou uma bosta porque vai achar que as brincadeiras eram erros, e também vai ter gente achando que era pra ser engraçado, mas ficou chato porque era sério. Blood Dragon chuta o pau da barraca.

Lançado em Abril de 2013, praticamente seis meses depois de Far Cry 3, pela Ubisoft, o jogo compartilha a mesma engine (a física do mundo virtual) de Far Cry 3, mas muda radicalmente no visual, na trama, nas interpretações e na trilha. A descrição mais simples é “um jogo da década de 80, como deveriam ser os jogos da década de 80”. Afinal, trinta anos atrás a capacidade de processamento e de gráficos dos jogos é incomparável com o que temos hoje. Blood Dragon traz o pacote completo. Cenários escuros, muito neon brilhante, defeitos de VHS e animações em 8-bits. A mecânica é perfeita, coisas explodem, você tem armas ridiculamente poderosas (como um lançador-de-granadas-sniper-semi-automático), inimigos à lá Daft Punk e um super vilão.

A capa do jogo mistura cartazes de filmes da época, um grid à lá Tron, uma escolha de fonte quase idêntica à de Transformers. Ah, claro, e tons brilhantes como esse rosa!

Você entra na pele de Rex Colt, um Cybercommando Mark IV, soldado parte humano, parte robô, totalmente americano (parodiando Robocop), um verdadeiro herói, e o único capaz de salvar o mundo como o conhecemos – escombros pós guerra nuclear. O vilão é um Cybercommando desertor, Sloan, que deseja dominar o mundo, tendo sob seu comando a Omega Force, um exército de robôs humanóides. Sem resumo, você está em uma ilha, e vai fazer de tudo para derrotar o supervilão. Não existem twists, revelações bombásticas ou drama, e isso é maravilhoso. O roteiro, as falas, os nomes dos personagens, tudo é absurdamente absurdo (se é que essa frase existe). É um mash-up de filmes de ação sem cérebro, patriotismo e violência tão exagerado que ironiza o gênero. Praticamente tudo é uma referência a algo fora do jogo (especialmente filmes, atores, personagens e jogos da década de 80, como você pode conferir nessa lista incrível).

Em Blood Dragon, você não se estressa com nada. Na verdade, acho que ele veio para preencher uma lacuna de Far Cry 3: ação sem propósito. Muitas vezes você começa a jogar e não quer cumprir missões ou ajudar aldeões, quer só trocar uns tiros com uma galera, e que isso não seja a coisa mais fácil do seu dia. Blood Dragon faz isso de forma magnânima. By the way, o nome do jogo deriva dessas criaturas amigáveis da foto acima, que dominam a ilha onde os eventos acontecem. Eles perambulam sem rumo, e sentem a presença de estranhos pelo cheiro. Dessa forma, podem ser utilizados como aliados ou inimigos. Enquanto é fácil exterminar dezenas de soldados num combate mal planejado, enfrentar um Blood Dragon quase sempre é um desafio desesperador. Não é preciso estratégia na destruição (mas com um pouco de estratégia, as explosões podem ficar mais divertidas), e mesmo assim ela atinge níveis estratosféricos – perto do fim, você pilota um Blood Dragon com armadura cibernética que lança raios laser pelos olhos e atira com uma minigun laser nas costas, enquanto conversa com você e lança infinitas frases de efeito.

As frases de efeito são uma das melhores sacadas do jogo. Sério, o sujeito que escreveu o roteiro conseguiu realizar todos os seus sonhos. Todas, literalmente TODAS as falas do protagonista têm alguma pegadinha ou trocadilho infame, ou referências a filmes da década de 1980. As próprias descrições das missões são HILÁRIAS, e todas as deixas de patriotismo exagerado fazem você gargalhar em meio aos tiroteios. Tem até uma sequência de diálogos entre Rex Colt e a Dra. Darling (sim, esse é o sobrenome dela, com direito a “It’s ELIZABETH to you”, quando o vilão chama ela de Darling), em que eles se dedicam exclusivamente a criticar quem fala mal de jogos.

O jogo em si é bem curto – mesmo completando todas as side quests, destruindo a porra toda e caçando todos os itens colecionáveis eu terminei em menos de seis horas – mas depois que acaba continua na cabeça por um bom tempo, fazendo você rir só de lembrar de várias coisas. Originalidade como não via há muito tempo, no que diz respeito a paródias e sátiras!

A jogabilidade é a mesma de Far Cry 3, com os mesmos comandos e pré-requisitos técnicos, e isso é um ponto positivo, porque não há truques para ficar aprendendo, começando a jogar você já tem noção de tudo que pode fazer. Outra vantagem é que o jogo é standalone, ou seja, não precisa de Far Cry 3 instalado para rodar. Não é exatamente uma expansão, tá mais pra um ripoff mesmo. Os inimigos não são os mais inteligentes do mundo, mas quando começam a aparecer em quantidade a coisa pode ficar um pouco mais espinhosa, por isso exige alguma agilidade nos controles e raciocínio rápido nos tiroteios. Uma dica para maior entretenimento com trechos de ação é cumprir a missão principal quase até o fim, sem conquistar as bases Omega Force, porque aí qualquer passeio pela ilha pode virar um enorme tiroteio permeado de explosões. Convenhamos, se você começou a jogar Blood Dragon depois de ver o trailer abaixo, certamente não foi pela trama.

Sobre as armas, não são muitas, na verdade, são bem poucas e o jogador carrega quase todas elas ao mesmo tempo, diferente de Far Cry 3, que tem trocentas opções de arsenal. A graça é que cada arma tem uma animação própria para sacar, de um jeito que ninguém faria na realidade, só num filme de ação. Além disso, quase todas são referências – a pistola chama A.J.M 9, em referência a Alex J. Murphy, o Robocop, e tem seu design copiado do herói de ação. A escopeta, Galleria 19991, é um clone daquela usada pelo Exterminador do Futuro, filme lançado em 1991, e a lista segue. Diferente de Killzone: Shadow Fall, que se apega muito ao realismo de seu próprio universo, Blood Dragon tem muitos picos de diversão, e o simples ato de trocar de arma já te faz rir um pouquinho de tão “cool e absurdo” que aquilo parece.

Em termos de replay, a missão principal é bem fraca, mas quase não afeta o resto do jogo. E a destruição nunca vai ser igual – acho que já zerei umas três vezes, cada uma favorecendo um estilo de ataque -, e é isso que abre margem para jogar tudo de novo.

Nota: 9/10

Se você conseguiu sobreviver a toda essa minha rasgação de Seda e ainda tá curioso sobre o jogo, se liga nesse artigo do The Sun.