Day-to-Day

[Roteiro I] Soterrado.

April 2, 2011

Missão da semana, escrever um argumento (ou sinopse?) de longa-metragem, e uma cena, a partir da seguinte notícia: Desmoronamento de mina mata 24 no Paquistão, escolhida em aula, entre muitas outras do Estadão daquele dia.

Na aula, Stefan apresentou uma proposta de filme-desastre, onde vários personagens estereótipos – pai e filho brigados, um religioso, um machista, um homossexual, etc… – ficam presos lá dentro e “vão morrendo aos poucos, muito dramático” (palavras dele), bem apelativo. A apresentação dele foi tão contrastante com o tipo do filme, que todos ficamos admirados, e votamos como melhor pitching. Isso levou às conseqüências do começo do post.

O Rubens (popularmente conhecido como “professor”) disse que podíamos mudar o argumento, e tudo, e a cena tinha que ter no máximo duas páginas. Bem, eu preferi mudar tudo. Não sei/gosto escrever drama. Preparados?

ARGUMENTO: Soterrado.

“Soterrado” é um filme de espionagem e ação, no estilo Trilogia Bourne. A história começa quando Hemish, soldado do exército indiano, é selecionado pelo RAW (Research and Analysis Wing), para conduzir uma missão secreta em solo paquistanês.

Nos últimos meses, as imagens enviadas pelo IRS-P6 (anunciado como um satélite de análise climática) estavam indicando grande movimentação de tropas numa mina abandonada de carvão. Em uma dessas imagens, é possível reconhecer o símbolo de radioatividade estampado em barris que chegam ao local. O objetivo de Hemish é se infiltrar na mina, como operário, e descobrir exatamente o que acontece lá dentro.

Ele atravessa a fronteira num carro descaracterizado, e é deixado no distrito de Sorange, o mais próximo da mina, com um pequeno apartamento alugado. A mina está em atividade crescente, e Hemish é logo contratado.

Nos primeiros dias, nada de anormal acontece, e os superiores indianos do rapaz o pressionam para que ele consiga resultados. A missão é muito cara. Por fim, numa chamada fora do horário normal de trabalho, Hemish vê muitos veículos entrando na mina. Os caminhões de fato possuem o símbolo de radioatividade. Militares estão de olho em tudo que acontece. Alguns cientistas saem do fundo da mina, de uma área isolada por avisos de desmoronamento. Eles conduzem os caminhões para essa região, Hemish consegue tirar várias fotos da ação. Ele reporta o acontecimento para o RAW, juntamente com as fotos, e diz já ter uma idéia para dar continuidade à espionagem.

Espionando separadamente um dos cientistas, Hemish o seqüestra, e assume seu lugar. Ele sabe que essa técnica não vai durar mais do que um dia ou dois, então tem que ser o mais rápido possível. Um avião não identificado sobrevoa a região da mina, e todos entram em alerta total. O espião entra no complexo de laboratórios disfarçado pela mina e confirma as suspeitas do RAW. Os militares paquistaneses estão desenvolvendo uma arma nuclear. A segurança é intensa, e Hemish conclui que a única forma de agir sem interferências externas é provocar um desabamento na mina.

A partir daí a tensão é crescente. Nessa noite, ele rouba explosivos e os espalha pela mina de carvão, sincronizando-os com um detonador que carrega consigo. Qualquer movimento o faz acreditar que será desmascarado e executado. Na última bomba, um dos soldados que patrulha a mina o vê, toma seu detonador e vai guiando Hemish para a saída, onde uma decisão será tomada sobre sua vida. Hemish se aproveita de uma distração do soldado com morcegos para lhe acertar com uma pedra e recuperar o detonador. Agora que seu disfarce já era, ele aperta o botão e corre alucinadamente para os laboratórios. A mina começa a desmoronar, e parece que ele não vai conseguir. Uma pedra cai sobre sua perna, ele desmaia.

Ao acordar, descobre que foi levado para o laboratório, e está sendo tratado pelos cientistas inimigos. A mina desmoronou, e todos os sistemas de comunicação estão parados. Os cientistas acreditam que ele também faz parte do grupo.

A partir daqui, o filme se desenrola mostrando os esforços do RAW em descobrir o que aconteceu com seu agente, e resgatá-lo, se estiver vivo, para debriefing, em contraposição com o exército paquistanês, que trabalha furiosamente no resgate dos cientistas, para encobrir o mais rápido possível, sua tentativa nuclear, agora que os olhos do mundo estão sobre a mina. Hemish segue, em meio aos outros cientistas, tentando sobreviver às dificuldades do desabamento, com comida escassa, mas água abundante. A energia cai com freqüência, instalando um estado de pânico entre os soterrados, pois sem energia, qualquer besteira pode causar uma reação em cadeia nos núcleos armazenados.

CENA

Anteriormente, HEMISH conseguira um emprego na mina, mas não viu nada suspeito até agora. Nesse dia, ele é chamado fora do horário de trabalho, para supervisionar uma descida.

EXT. DIA – MINA

O espaço é plano, e a entrada da mina é elevada, como uma colina escavada. A claridade rapidamente se perde lá dentro e não é possível ver o fundo. Espalhados do lado de fora, alguns contâineres funcionam como barracões, e um deles é o escritório administrativo local. É onde ficam os engravatados. Além disso, alguns poucos veículos de transporte de carvão estão estacionados próximos à entrada. O espaço é cercado por um alambrado de uns 4 metros de altura, e tem um portão na direção da entrada da mina.

HEMISH e mais algumas dezenas de trabalhadores da mina estão reunidos do lado de fora da mina, quatro oficiais do exército paquistanês, armados, saem do escritório administrativo e se dirigem à multidão.

OFICIAL 1
Senhores, vamos distribuí-los ao longo de um percurso dentro da caverna, e esperamos avisos, caso algo de anormal aconteça com as rochas. Vocês foram convocados por segurança.

Se aproximando rápido, um comboio de caminhões militares amarelo-ocre levanta nuvens de poeira no deserto. Na frente do comboio, um jipe. Eles se dirigem para a mina. Alguns mineiros se distraem do discurso do Oficial 1, para olhar o que se aproxima.

OFICIAL 2 e OFICIAL 3 percebem essa distração, e chamam à frente dois desses mineiros.

OFICIAL 2
Repita o que foi dito. Qual a função de vocês aqui, hoje?

MINEIRO DISTRAÍDO 1
Err… guiar vocês na mina…

Sua frase é interrompida por uma forte pancada que o Oficial 2 dá em seu estômago, com o cabo de seu rifle. Oficial 3 bate ao mesmo tempo no MINEIRO DISTRAÍDO 2.

OFICIAL 1
Distrações podem ser fatais. Considerem isso como um… lembrete do que pode acontecer caso vocês não cumpram sua função.

O jipe e os caminhões já estão bem perto, estacionando na entrada da mina. Oficiais 2 e 3 ficam observando os mineiros, enquanto Oficial 1 e OFICIAL 4 vão falar com o motorista do jipe. Ninguém desce dos carros. Hemish aproveita essa pequena folga para alcançar seu celular no bolso, tentando fotografar os caminhões e oficiais.

OFICIAL 1
(agressivo)
Ei, você!

Hemish congela, mas não antes de jogar o celular de volta no bolso. Todos olham na direção que o Oficial 1 apontou. É um MINEIRO ao lado de Hemish, que vai andando até a frente do grupo.

OFICIAL 1 (CONT’D)
Comece a distribuir seu pessoal, que já vamos começar a entrar.

MINEIRO
Sim, senhor.

O Mineiro começa a chamar alguns dos outros trabalhadores, enquanto os veículos vão entrando lentamente, com faróis ligados, lançando alguma luz no interior da mina.

Hemish vê os barris radioativos no fundo de alguns caminhões que passam.

Ele é chamado para entrar. Enquanto caminha, vai tirando mais fotos com o celular.

Eles entram na mina, se espalhando e atentos ao teto, a qualquer sinal de anormalidade.

  • Tito Ferradans April 7, 2011 at 6:39 am

    No dia 25/03, Sábado da semana desse exercício, abro a Folha e encontro ESSA notícia:

    Amizade de quase 20 anos acaba em golpe.
    Fonte: Folha de S. Paulo – ANDRÉ CARAMANTE

    Homem é acusado de planejar invasão da casa de amigo, roubar fórmula secreta e tentar vendê-la no exterior. Preso em Assis com computador roubado, ele diz que fórmulas de produtos de beleza também eram dele.

    Uma amizade entre dois jovens iniciada há quase 20 anos na cidade interiorana de Assis acabou, segundo a polícia, numa tentativa de golpe industrial e na prisão de um deles, anteontem. Giulliano Schincariol Bordieri de Carvalho, 34, é acusado de planejar a invasão da casa do amigo Alexandre Nascimento, também de 34 anos, a fim de roubar uma fórmula secreta de cosméticos para, depois, negociá-la no exterior. Até a noite de ontem, Carvalho não havia constituído advogado. Quando era conduzido pela polícia, ele afirmou rapidamente a jornalistas que não roubou as fórmulas e que é sócio do amigo.

    TRAJETÓRIA

    Poliglota, com várias viagens pela Europa e um apreço especial por Paris, onde diz ter estudado certo tempo, Carvalho é de família de classe média alta. O amigo Nascimento não tinha situação econômica tão privilegiada. Mas a família de Nascimento prosperou financeiramente ao criar uma linha de produtos para alisar cabelos. Com a Inoar Cosméticos a pleno vapor, Nascimento passou a morar em São Paulo, onde os amigos vieram a se reencontrar anos depois. Carvalho convenceu Nascimento a torná-lo representante da Inoar Cosméticos na Europa atrás de novos contratos. Ele, porém, não conseguiu desbravar o mercado. Mas a amizade não foi abalada, a ponto de Carvalho ir morar um pequeno período de tempo na casa do amigo empresário, no Morumbi, bairro nobre da zona oeste de São Paulo.

    ROUBO

    Na noite de 19 de fevereiro deste ano, quatro ladrões invadiram a casa de Nascimento. Eles usaram um controle remoto para abrir o portão da garagem e tinham detalhes da rotina do lugar, a localização exata de bens valiosos e, principalmente, queriam os três computadores: dois notebooks e uma CPU. A riqueza de detalhes na invasão chamou a atenção dos investigadores da Delegacia de Repressão a Roubos Especiais, do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado). Há alguns dias, os policiais foram informados por Nascimento de que um de seus notebooks tinha um programa de rastreamento e havia começado a emitir alerta via e-mail de que estava sendo usado em Assis. Ao rastrear o sinal do notebook, os policiais chegaram a Carvalho, que acabou preso na cidade do interior, que fica a 434 km da capital. A polícia analisou o computador em posse de Carvalho e informou Nascimento que o amigo de longa data estava negociando a venda da fórmula secreta de cosméticos para pessoas da França e do Gabão, país africano.

    Segundo Nascimento, essas fórmulas estão avaliadas em cerca de € 2 milhões. Os dois amigos chegaram a se encontrar no Deic e trocaram breves palavras. Em seu perfil no Facebook, Carvalho destaca a frase: “O destino não é uma questão de sorte, é uma questão de escolha. Não é algo pelo que se espera, mas algo a alcançar.”

    Claro que guardei a página! Tem até uns quadrinhos. De vez em quando, a realidade é tão engenhosa que nem precisa mexer.

  • Ferradans. · [Roteiro I] Improviso. April 7, 2011 at 9:57 am

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