Day-to-Day

Teorias perfeitas.

May 1, 2009

Eu acreditava que existia uma constante sobre teorias perfeitas: na prática, elas sempre falham.

É inegável. Todo mundo tem uma teoria que considera perfeita e, todo mundo sabe, ao por essa teoria em prática, ela não é mais tão perfeita assim e a tentativa/plano vai por água abaixo. Pensem sobre isso sobre alguns instantes e verão que é verdade. Eu mesmo já passei por isso algumas (inúmeras) vezes.

Indo direto ao foco da teoria, eu tinha uma teoria para fazer efeitos de balas atingindo pessoas em cena. Na verdade, eu já tive várias teorias sobre isso. Nenhuma delas funcionou e todas pareciam perfeitas. Uma envolvia pólvora, a outra, paintball, e, por fim, a terceira, com um botão, um saco de sangue e um fio de nylon. Era daquelas idéias que eu achava tão boa que ficava enrolando pra testar, evitando uma (quase certa) decepção.

Aí chegou o dia de hoje. Feriadão. Nada pra fazer. Tava tão desocupado que assisti os TRÊS Velozes e Furiosos, em ordem inversa (comecei pelo terceiro e terminei no primeiro). Filmei coisas de manhã, li os jornais, VARRI O QUARTO de tarde, PASSEI PANO, lavei roupas, lavei pratos, botei o lixo pra fora, enfim, já deu pra ter uma noção da minha ausência de atividades programadas.

Tava arrumando o armário quando me deparei com os potinhos de sangue falso (vagabundo e mal feito, dessa vez). Pensei por alguns instantes. Já tinha trazido de Salvador a roupa que seria bagaçada no teste (e ela já tava bagaçada ANTES do teste), tinha o resto do material no armário, e ontem mesmo tinha conseguido (FINALMENTE!) encontrar anilina vermelha no mercado. “Ah, vamos testar essa parada LOGO! Se falhar, eu já começo a pensar em outra teoria brilhante…”

Comecei. Forrei o chão do quarto com alguns jornais velhos. Tirei o spot de luz do armário e coloquei num canto (de que vale um teste se você não o registrar?). Catei os materiais e espalhei perto do armário. Levei o sangue para a cozinha, diluí em água. Ficou pior que ketchup, e com um cheiro enjoado. Joguei anilina. Ficou menos feio, mas continuou fedorento. “Ah, é só um teste. Vai ser esse sangue mesmo”. Botei o sangue no saco plástico e levei uns vários minutos até conseguir amarrar o mini-saco. O troço era QUADRADO, e tava cheio até a metade com sangue…

Voltei pro quarto. Meti o estilete na camisa velha, deixando o tecido bem fino no pedaço que ia ser atingido. Passei um cordão de nylon por um botão de costura (que quando eu comprei, disse para a velhinha da loja que ia usar em uma obra de arte), colei o botão ‘nylonzado’ no saco, colei o saco por dentro da roupa e passei a ponta do fio pro lado de fora da roupa. Liguei o spot de luz. Cegueira momentânea. Caramba, esse negócio é forte. Arrumei a câmera e fui pro lugar forrado pelos jornais.

Momentos de tensão. É agora que a gente vai ver se essa infalível falha. Pensei no botão por dentro da roupa. Pensei no pano fraco. “Esse botão não vai atravessar isso nem… fazendo amor”. Enrolei o fio na mão. “Tomara que dê certo”.

Puxei o fio com força. Eu disse: com FORÇA. Voou sangue cor de rosa quase até a parede oposta. O troço tava muito líquido. Senti o líquido vermelho escorrendo por entre meus dedos. Na roupa, uma grande mancha. Os jornais ensopados.

“FUNCIONA!” – foi meu único e último pensamento.

É, toda regra tem sua exceção. Encontrei a minha exceção às teorias perfeitamente [falíveis]. Espero que existam outras exceções. Tenho muitas teorias. Não muitas perfeitas, mas algumas sim. Esse post tá estranho/engraçado. Ele começa e termina de um jeito filosófico e tem um desenvolvimento inteiramente prático. Fantástico.

Trilha: Libera o Badaró – Unidunitóvski.

  • Vick May 2, 2009 at 7:51 pm

    adoro coisas de feriado.

  • Donk May 5, 2009 at 3:59 pm

    Vou dizer algo sobre regras:

    Para toda regra existe 20% de exceção.
    Isso é uma das fortes teorias em que acredito. E é amplamente divulgada no campo do relativismo.

    Donk também é cultura.