
Na manhã do dia 29 de Abril, Rafael entrava elegantemente na agência no seu horário habitual quando foi interrompido por Marina, a recepcionista.
— Bom dia, Nina!
— Bom dia, Rafa. Olha, a Luísa já chegou. Está esperando na sua sala.
— Luísa?! É algum contrato novo? Marina, pelo amor de deus, não me diz que eu deixei uma cliente esperando!
— Que cliente, rapaz! É sua estagiária!
— E… Estagiária? Que estagiária?
— Hm… Então foi isso que o Carlos quis dizer com “dê as más notícias ao Rafael”… – a moça murmura para si mesma, num tom alto o suficiente para o rapaz ouvir.
— Ô Marina, que história é essa? Más notícias? Estagiária?
— A chefia tava procurando alguém que fosse paciente e que pudesse receber uma mãozinha. Aí seu nome apareceu. Novo na empresa, recém formado, ótimo profissional pra acompanhar uma estagiária sem traumatizar a moça!
— Ma-ra-vi-lha! – completa Rafa, ironicamente – Então acho que não tenho opções, certo?
— É, mais ou menos isso. Boa sorte.
— Obrigado, Nina. Acho que vou precisar.
Muitíssimo mau humorado, Rafa seguia resmungando em direção a sua salinha no fim do corredor enquanto ouvia piadinhas e assobios de todos os colegas, sem distinção de gênero.
— Aí, publicitário-modelo! Mostra pra galera que você ainda sabe cuidar de uma estagiária! – um colega grita do último cúbiculo pelo qual passara.
Com base na expressão da garota e no tom de vermelho em seu rosto, sim, ela havia escutado perfeitamente o que o “colega” gritara.
— Bom dia – Rafael diz, sério, como se nada da balbúrdia tivesse acontecido.
— Bom dia – ela responde, passando as mãos no rosto e tentando expressar normalidade.
— Luísa, né?
— É…
— Então, primeiro de tudo, sejamos honestos. Eu não pedi pra ter uma estagiária, nem sei como você pode me ser útil.
— Já que é pra ser honesta, eu também não pedi um chefe resmungão! – a moça responde ofendida – E não acho que ficar discutindo vai adiantar muita coisa. Essa é uma oportunidade importante pra mim.
— Importante? Você tá falando sério? Qual a importância de ser estagiária de uma agenciazinha de publicidade, de um sujeito recém formado que não pega um contrato que preste? – Rafa encara o quadro-storyboard atrás de sua mesa enquanto fala. A moça está sentada numa cadeira atrás dele e ele não repara seus olhos marejados enquanto ela sai sem fazer barulho.
Ela cruza os corredores a passos largos, sob os olhos de todos, estupefatos, silenciosos e um tanto quanto arrependidos. Para ela, nada daquilo existe e toda a sua concentração está em sair daquele lugar horrível. Ele se vira ao ouvir o estalo da porta se fechando. Pelo vidro fosco, consegue distinguir a garota já longe, perto da recepção.
“Porra, Rafael, você é um ignorante!“. Ele fica na sala, ainda sem reação enquanto o telefone começa a tocar. É da recepção.