Agora sim, adrenalina bombando nas veias, numa das corridas mais preocupantes pelas quais já passei! Antes, um pouco de ambientação, pra esclarecer motivos e influências externas (quais?!).
Todo sábado eu tenho aula. É um reforço para direito. Tá, eu sei, “mas você vai fazer direito?!” – Não. Não vou fazer direito, mas por ser o curso de humanas mais desejado e concorrido, o cursinho oferece um reforço especial. São questões e mais questões, aulas extras e provas a mais do que a rotina normal de aulas semanais. A cada mês, temos uma prova do RPD (Reforço Para Direito), e junto com a prova, devemos entregar uma série de questões escritas, as quais temos o mês todo para fazer, mas a maioria faz na última semana. Fiz algumas no começo do mês, e outras deixei para a última semana.
Fui fazendo com calma, mas na noite de sexta sempre sobram duas atividades: passar tudo a limpo e resolver as de matemática. Emendando direto no fim da história anterior, tinha acabado de chegar em casa e fui passando as respostas para as folhas definitivas de entrega. Das 9h30 da noite até 1h30 da manhã, fiquei empenhado nessa missão. Deixei as de matemática para quando acordasse, mais cedo que o normal. Aos sábados as aulas começam às 9h. Acordei 6h e fui matar as questões faltantes. Não estavam difíceis! (Milagre). Arrumei tudo bonitinho e deixei em cima da mesa, pra lembrar de pegar quando saísse. Eram 7h. Nesse momento, memórias invadem minha mente:
Esse RPD já me colocou em apuros. Uma vez eu desci numa estação de metrô totalmente errada e levei vários minutos até perceber que estava pegando o caminho errado. Voltei correndo para a certa e cheguei bem a tempo para as aulas. Esse foi o primeiro momento de tensão. Em outra aula, também de entregar tarefas, esqueci as tarefas em casa, e percebi o esquecimento enquanto ia em direção ao metrô. Esse dia também foi tranquilo. Voltei e peguei, nem cheguei atrasado, mas me surpreendi com tamanha desatenção.
Pois então, a história de ontem, é o cúmulo do desespero. Saí com o tempo certinho para chegar na prova. Fui alegremente caminhando, entrei no metrô, quando já estava no segundo trem, faltando cinco minutos para o começo da prova e uma estação de distância, percebo a merda: ESQUECI AS TAREFAS EM CASA!
Refleti, por uns vinte segundos: “Volto e pego as tarefas, correndo risco de ter que fazer a prova outro dia, ou mando as tarefas (e todo o meu esforço de ontem e hoje) para o quinto dos infernos e faço a prova hoje?”. Por motivos óbvios de esforço pessoal, resolvi voltar para casa. Eu corri. MUITO. Normalmente, andando rápido, o caminho metrô-casa ou casa-metrô leva oito minutos. Eu fiz em quatro. Saí correndo do trem, subi as escadas correndo, desci a Augusta desabalado, e ainda dei a sorte de todos os sinais/semáforos/sinaleiras estarem abertos para minha passagem. Não lembro exatamente de nada do percurso, só de alguns borrões de cor e passos largos. Abri o prédio, subi pelo elevado apertando o botão mil vezes pra ver se ia mais rápido.
Peguei as tarefas correndo, saí correndo de novo até o metrô. Nova jornada de borrões. Cheguei na estação e desci. Na plataforma, fico a esperar o trem. Aí bate o mal estar. Sabe quando você come demais no café da manhã e depois faz algo de muita agitação física? Foi exatamente o caso. Estava eu, atrasado, enjoado, suando frio, respirando alucinadamente e achando que ia apagar ali mesmo. O trem chegou, eu entrei com alguma dificuldade e cara de sofrimento. Me joguei na primeira cadeira.
Sabe aquelas coisas que você jura que não funcionam, quando tá desesperado, e acompanhado de alguém, que fala o tempo todo pra você ir pensando coisas boas, sentir os pés no chão, procurar motivos para se manter acordado, etc, etc? Se vocês nunca passaram por isso, eu passei bastante, e minha mãe foi minha tutora nessas artes. Enfim, geralmente eu me acalmava porque ela tava ali do lado. Nesse dia, eu estava sozinho, e fui testar aquelas aplicações. Funciona, galera! Funciona MESMO! Não é lenda!
Cheguei na troca de trens às 9h10, e ao cursinho às 9h20. Na recepção, uma notícia já esperada (em parte), mas não totalmente aceita. A mocinha que lá estava disse que o horário de entrar na prova já tinha esgotado, que era para eu falar com o coordenador da minha unidade na segunda feira. Ok, eu consigo encarar isso. “Mas, eu posso pelo menos entregar as tarefas para alguém?”. Aí ela cometeu o erro: “Fala com os fiscais de prova, e entrega para eles”.
Entrei, fui em direção à minha sala de aulas e fiquei esperando o fiscal aparecer na porta. Expliquei pra ele a situação em algumas frases e perguntei se ainda podia entrar pra fazer a prova. Ele olhou para o relógio com cara de “Mano, acho que você se fodeu”, mas respondeu “Calma, vou ver aqui com a supervisão”. Depois de alguns segundos ele volta. “Hoje é seu dia de sorte, cara. Pode entrar”. Respirei aliviadíssimo e entrei para fazer a prova, ainda em alta rotação, suando e tremendo devido à correria toda.
Por fim, consegui entregar as tarefas, E fazer a prova. A nota foi até melhor do que eu esperava depois de tudo isso, mas tô esperando sair a classificação geral, para poder ver como me encaixo em relação aos concorrentes. 51 acertos em 64 questões, corrigi no metrô, voltando pra casa. As tarefas também valeram o esforço, e quase todas as questões que eu chequei no gabarito estavam certinhas. Oh yeah.
Só pra encerrar essa história alucinante, algumas das lições aprendidas:
0 – NÃO deixe as coisas para o último instante.
1 – Se você não quer correr risco de esquecer algo, ANOTE, ou COLE NA PORTA DA SAÍDA.
2 – SEMPRE compre um bilhete a mais de metrô. Nunca se sabe o que pode acontecer.
3 – Tenha sapatos adequados para uma corridinha.
4 – Só corra demais sabendo que depois você pode ficar em situações lastimáveis.
5 – NUNCA saia em cima da hora. Pode ser bonito na Inglaterra, mas se você esquecer qualquer coisa, ou pegar o caminho errado, sua pontualidade vai pro espaço.
6 – As manhas para acalmar funcionam! Sinta seus pés no chão e respire num ritmo constante e calmo. Pensar positivamente ajuda bastante.
Acho que dava até pra escrever uma fábula com essa situação. Olha só o tanto de lições… Por escrito, pode não parecer que foi tanta coisa, mas, para o sobrevivente aqui, foi mais do que suficiente pra colocar coisas na cabeça.
UFA. “Pernas, não sei o que seria de mim sem elas ao meu favor”.