O Writogether é um projeto iniciado pelo Ricardo Cestari, primo da May, que mora em São Bernardo. Depois faço um post falando da figura, mas é um camarada que respeito muito porque é o tipo de pessoa que falta no mundo, uma pessoa com opinião, mas não fechado em seu universo, e muito disposto a discutir sobre qualquer tema, e reconhecer quando/se estava errado no começo, e ver as coisas por outro ponto de vista. Isso por si só já seria suficiente pra eu apoiar o projeto, mas, vamos à idéia.
Júnior, me corrija se eu estiver errado aqui, ok? Hahaha! O Writogether é uma plataforma de criação colaborativa para ficção. Temos três tipos de contas, escritores, ilustradores e leitores. Seus papéis são óbvios, certo? Mas a parte mais legal é como tudo se relaciona. Sei lá, digamos que eu gosto de criar personagens, e só, não quero fazer histórias, só inventar um monte de personagens extremamente elaborados. Ok, eu posso fazer isso e ir registrando eles lá. Aí vem um sujeito que gosta de um (ou mais) desses personagens e resolve escrever uma história com eles, que tal? Ou então um que vai na linha de “uma imagem vale mais que mil palavras”, e gosta mesmo de retratar esses personagens, ou situações descritas nas histórias, beleza, fechado, pode fazer isso também!
Por que eu acho tudo isso foda? Porque antes de começar a me mudar direto, eu gostava muito de escrever histórias. No começo, ainda em São Paulo, escrevi algumas coisinhas, sempre curtas ou seriadas (essas fotozinhas aí do lado esquerdo do blog), porque não gosto da idéia de ficar guardando as coisas pra não terminar nunca. Se é pra ficar pela metade, pelo menos vai ter metade pra quem quiser ler. E ter feedback nesse processo, saber que tem gente lendo, e receber comentários, críticas e sugestões também afeta o andamento da história. Como não curtir uma idéia que é basicamente uma rede social pra pessoas que gostam disso?
Não vou dizer que parei de escrever histórias, só que ultimamente tenho estado bastante ocupado escrevendo a minha própria, e resumindo os capítulos aqui, na forma de posts nesse blog. Sinto falta de escrever – não que eu seja um puta escritor, mas eu gosto do processo! – e toda vez que tenho que elaborar um filminho, criar o roteiro é sempre o passo que mais me faz pensar, e amarrar as pontas, porque uma história ruim ou uma história mal contada não valem todo o esforço que vem a seguir.
Não vou nem entrar no mérito da leitura de ficção, porque quem lê sabe como é não conseguir desgrudar do livro até acabar, faltem 4 ou 400 páginas, tem hora que o bicho pega e aí já era. Adeus realidade, vamos descobrir como esses outros eventos se desenrolam nas páginas, redesenhados pela nossa criatividade pra imaginar as palavras em ações e imagens.
Enfim, acabei divagando um monte e não sei se vendi a idéia. Gosto da interatividade e colaboração – porra, meu TCC é “open source google docs” – e se tá sendo tocado por um cara firmeza como o Ricardo, tô entrando no barco pra ver quão longe ele vai me levar – trocadilho proposital aqui!
Ah, e fui eu que criei a id visual (esse banner aí no topo do post, e a foto de perfil no facebook), logo antes de começar o term, pra já dar uma ajuda no que estava ao meu alcance, e incentivar a idéia a ir pra frente. Atualmente o projeto tá no Catarse, dêem uma passada lá e colaborem, vai ser foda! O vídeo e as descrições também clarificam bastante desse monte de maluquice que eu falei aqui.
Entre Sexta e Domingo, filmei quatro projetos de demo reel de pessoas diferentes – incluindo o meu – em locações totalmente diferentes, com estilos totalmente diferentes e diretores igualmente diferentes (“igualmente diferentes”? existe isso?). A sexta começou com aula, e depois cerimônia de graduação de uma turma (3D108). Depois, voltei pra retirar as toneladas de equipamento que eu tinha reservado pro meu set, e que ia usar partes nas filmagens dos outros também.
Eu e o Sean carregamos sacos de areia e prolongas pra casa dele, pra eu pegar no dia seguinte, e junto com o Petar, Pan, Clem e Bianca, carregamos dois kits de luz até o Seabus e fizemos a travessia para North Vancouver. De lá, pegamos uma carona com o primo do Pan, pra casa da tia dele, onde íamos rodar uns dez planinhos. A idéia é que fosse amanhecer, e já tava tudo escuro. Ah, o quarto era no porão, com uma janela que dava pra uma parede, com uma grade em cima, saindo pro quintal. Lá fomos nós, pendurar um refletor pela grade, pra luz rebatida entrar suave e funcionar como começo de dia. O Clem mandou muito bem na câmera, e os planos ficaram bem bonitos. Depois jantamos por lá, conversamos um bocado, desproduzimos e voltamos. Peguei um táxi de Waterfront pra casa, carregando todo o equipamento. Cheguei em casa umas 9h30 pm e tava acabado de cansaço.
De noite, dormi muito mal, preocupado com os meus planos, que ia rodar no Sábado de noite. Tenho a sensação de ter ficado metade da noite acordado, pensando nisso, em coisas que poderiam dar errado, e como resolvê-las pra nem dar chance de acontecer. No finzinho da manhã de Sábado, fui pra VFS, filmar com o Sean. Lá estavam a Rityka, Petar, Clem e Kaileene, que era a atriz do filme do Sean. No caminho pra escola, tive a idéia de adiantar uma etapa do meu projeto, aproveitando que a May já estaria com a gente pra fazer o photoscan dela na locação, então peguei o nosso greenscreen portátil pra carregar comigo. Enquanto o Sean imprimia autorizações de filmagem e as pessoas chegavam, o Petar dedicou vários minutos (e muitos metros de fita crepe verde) cobrindo a arma que seria usada nas filmagens, pra polícia não levar a gente em cana.
O dia foi bem nublado e escureceu cedo, mas conseguimos filmar tudo sem stress. Fui encontrar a May pra pegar o equipamento de som (estávamos filmando a duas quadras do campus dela), e depois reencontrar a equipe num café. Na saída, carregando uma porrada de equipamento, vejo meu ônibus passar. Saio correndo pra pegar o desgraçado e começo a contagem regressiva pra conseguir transportar tudo da escola pra casa usando um ticket só. Cheguei em casa, larguei tudo na sala e saí correndo pra pegar outro ônibus de volta pra escola. Pensei em avisar o vizinho, um papel falando que eram filmagens, pra ele não ficar alarmado com gritos. Por coincidência EXTREMA, encontrei o bróder DENTRO DO ÔNIBUS. Ele ficou super feliz que eu avisei. Da VFS, fomos para a casa do Sean buscar as coisas que tínhamos deixado por lá, e corri pra pegar o último ônibus de volta pra casa, carregando mais peso. Consegui não gastar mais bilhetes, mas foi por pouco: quando peguei o último ônibus tinha seis minutos pra usar o ticket!
Combinei com o Nicko pra vir aqui fazer som direto pra gente, o Petar veio dar uma mão em tudo que precisasse (ligar luzes, operar câmera, o que o plano pedisse). Começamos um pouco atrasados, mas acabamos antes do previsto, às 10h30 pm. Filmei em RAW, então foram toneladas de material. Lá pras tantas, ao invés de frio, a gente tava com calor. As luzes ligadas dentro do apartamento certamente colaboraram um bocado no processo. Tenho umas coisas de making of, e planos que deram errado que são ótimos pra compartilhar, mas preciso tratá-los primeiro, e tô com assignments mais urgentes pra fazer.
Acabamos de filmar de noite, e agora dependia do clima para ver se ia rodar no Domingo de manhã cedo ou não. Se estivesse chovendo ou com neblina, não ia rodar. Tinha deixado só alguns planos pendentes, que dependiam mesmo de luz natural, e de um horário muito específico de luz, entre 8 e 9 da manhã. Se eu tinha dormido mal de Sexta pra Sábado, acho que de Sábado pra Domingo eu só pisquei, preocupado com o que já tinha passado e com o que ainda tinha que fazer. Combinei com o Petar e o Nicko de chegarem por aqui às 7h20, e começamos a rodar pouco depois das 8h am. Aproveitando que o tempo tava BEM nublado, e a luz suave, levamos adiante o plano de fazer o photoscan da May em locação. Tinha uma caminhonete estacionada BEM NO MEIO de onde meu plano devia acontecer, mas deu pra contornar. Na verdade, se o plano der certo, esse carro vai ser um mega bônus em termos de coisas voadoras no final. Escaneamos ele também, por via das dúvidas.
Acabamos uns quarenta minutos atrasados em relação aos planos originais. A May tava liberada, mas pedi a ajuda do Petar pra fazer um photoscan do carro e HDRI da locação. Como eu tinha esquecido a 8-15mm em casa, voltamos acompanhando a May, e deixamos os equipamentos essenciais com o Nicko. Voltamos, torcemos pro carro ainda estar lá, e o estacionamento ainda estar vazio. Tudo certo. Chamamos o Nicko, ele desce sem os equipamentos, esqueceu em casa. Subimos com ele. Descemos, e tem um carro gigante, branco, estacionado na vaga mais importante pra gente tirar nossas fotos. PUTA QUE PARIU, SÉRIO?! VAI ME SACANEAR AGORA?!
Ficamos um pouco desesperados, consideramos escanear os dois carros e tentar separar depois, limpar o HDRI no Photoshop, escanear metade do carro e espelhar, várias loucuras. Depois de cinco minutos de crise, o dono do carro branco aparece, entra em sua SUV e vai embora. I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL. Literalmente dou pulos de alegria. Enquanto o Petar se prepara pro photoscan, vou pro meio da rua fazer o HDRI (uma série de fotos no tripé, girando ao redor de um mesmo ponto). Ligo a câmera, tiro a primeira sequência (de seis), e começa a passar um monte de gente e um monte de carro. Fico indignado, desisto. O Petar tá no telefone. Espero ele terminar, e a rua fica deserta assim que tiro o tripé de lá. Volto pra tentar de novo, CARROS PACARAI! Tá me sacaneando, cidade dos infernos?! Dessa vez eu não arredo pé e todo mundo some em poucos segundos. Faço as fotos em tempo recorde. Depois disso, ainda vimos vários carros desistindo de entrar na rua porque a gente tava filmando/fotografando. Fiquei feliz com esse respeito (ou medo?) do trabalho alheio. Escaneamos o carro, são dez pras 11 da manhã.
O Nicko tá emprestando uns leds e circuitos pro Petar usar no reel dele, então subimos pra dar uma olhada nisso. Saímos, tô quase atrasado pra encontrar com a Rityka, pro reel dela. Passo em casa, pego o shoulder, câmera, baterias e lentes, descarrego o cartão e volto pra entregar as fotos dos scans pro Petar tentar processar qualquer coisa – a gente tava sem muita fé, achando que tava subexposto, e a May tava com roupas escuras, que também pioram os resultados. Enfim, entre ter chance de dar meio certo, e não ter nada, por não ter feito, escolhi ter chance. O Petar tá indo pro mesmo lado que eu, e vamos conversando até Waterfront.
Lá encontro com a Rityka e o Sean, pra ir pro Stanley Park filmar. Também tinha combinado com o Lucas Campos (AV12), que tá por aqui, de ir com a gente, pra conversar, e ver um set muito tranquilo. Pegamos o ônibus e a locação era DO LADO do ponto final, então nada de carregar peso até o meio do mato, ou congelar em Surrey. Fiquei muito feliz com isso! Armamos nossa bagunça e começamos a rodar. Acabamos relativamente rápido e os planos ficaram bem bonitos. O Lucas fez um monte de making of com a T3i da escola e me deu uma puta ajuda num plano de foco impossível, então tô devendo uma pro rapaz. Depois que terminamos, o Sean e a Rityka foram pegar o ônibus de volta pra escola e eu e o Lucas voltamos andando, carregando equipamento.
Conseguimos a proeza de andar vinte minutos na direção errada, e quase não achamos a saída do Stanley Park. No fim, saímos do lado oposto ao planejado, e tivemos que andar mais uma porrada até chegar na Davie de novo. Já tô sabendo de todas as últimas histórias do AV, rolês, tretas, greves, exercícios e professores. Sentamos pra conversar num restaurante japonês e é aí que o Lucas me conta que o Scavone (aka o orientador do meu TCC) usou meu TCC como base pro trabalho final de Imagem 4. EU NÃO SABIA DISSO! Fiquei muito curioso pra ler as análises da galera, e vou mandar um email pro Scavone, pedindo, de curiosidade mesmo. Isso é uma experiência nova, de ler o que alguém escreveu sobre algo que eu escrevi – e que não é só um comentário breve, e sim uma análise de algum ponto em particular do trabalho.
O apê onde ele tá ficando é no caminho pra minha casa, então nos separamos por lá e voltei pra cá com o resto das tralhas. Aí começou aquela parte do set que todo mundo adora, que é a desprodução. Como fui fazendo tudo correndo, a casa tava uma zona total. Aquela sensação imbatível de usar sua casa como base de produção, sabe? Refletores e tripé pra todo lado, cabos fazendo armadilhas pros distraídos, malas e mais malas escondidas atrás de todas as portas, greenscreen do lado da pia do banheiro, uma beleza. Quando acabei de fechar e conferir tudo já eram umas 7h30 pm e sentei no computador pra terminar de converter meus arquivos.
A May chegou mais ou menos nesse horário, e eu tava aqui na dúvida se tava morto de cansaço ou ficando doente, sendo que as duas coisas tinham probabilidades bem parecidas, com base no que eu tava sentindo. Às 8h30 eu era um zumbi na frente da tela, esperando a conversão terminar pra poder colocar tudo no HD externo pra levar pra escola na Segunda. Ainda fiquei mais umas horas acordado pra dar coragem pra May fazer os projetos dela, e morri assim que meu corpo atingiu a posição horizontal. Segunda feira eu acordei bem, melhor que o normal, então descartei a chance de estar doente. Era só cansaço mesmo. Meus músculos estavam todos doendo, tipo depois de malhar. Sensação terrível. Fazia muito tempo que não carregava tanto peso, andava, e me preocupava tanto, especialmente num intervalo de tempo tão curto.
De manhã, dei uma geral nos arquivos e comecei a montar o curtinha. Não consegui terminar a tempo da aula, mas já recebi meus objetivos para a apresentação da semana que vem. Nesse processo também descobri que tinha dois mega assignments pra fazer e entregar no mesmo dia, e que eu não tinha nem começado! Um de greenscreen, que a gente filmou no estúdio – e conseguiu derrubar o quadro de luz do porão da VFS – e foi meio gambiarra, porque eu tava de diretor – e vocês bem sabem como eu adoro dirigir qualquer coisa que não seja um carro. Cheguei em casa às 5h30 pm e comecei esse diabo de assignment. Quando a May chegou, 10h30 pm, eu tava acabando de acabar. Hoje de manhã gastei mais umas duas horinhas pra fazer os breakdowns exigidos e estou livre desse.
O segundo assignment é um rolê de camera projection. Não sei nem se tenho exemplos pra mostrar, mas comecei logo depois do greenscreen, usando uma foto daqui do apartamento mesmo, e acho que tá indo bem. Se eu conseguir fazer mais da metade hoje, já é lucro. Ainda tenho que terminar de editar o reel!
Filmei na rua muitas vezes no Brasil. A maioria delas era guerrilha total, sem autorização, se ninguém reclamar, tá valendo, escondendo a câmera, com medo de ladrão, de polícia, de segurança, de gente olhando torto, muitas vezes abrindo mão de planos importantes ou com planos caindo porque a gente tinha sido expulso dos lugares. Esse era meu maior medo durante a produção do Zona SSP.
Às vezes – muito raramente – a gente conseguia autorização pra filmar, e mesmo assim era uma zona, não podia atrapalhar o trânsito, tinha que lidar com gente escrota na rua, gente que passa gritando no carro, dando tchau pra câmera, ter que explicar pra polícia que a gente tem autorização pra filmar – isso aconteceu mais de uma vez -, se proteger de caminhão pegando fogo, essas coisas. Quando não era isso, a autorização era negada e aí já era até os métodos de guerrilha, a saída era arrumar outra locação mesmo, o que quase sempre era prejuízo.
Aí cheguei aqui em Vancouver com o mesmo pensamento sobre filmagens pro demo reel. Ser discreto, entrar e sair rápido, equipe pequena, se ninguém reclamar tá valendo, e por aí vai. A escola recomenda que a gente peça autorização pra filmar em qualquer lugar. Se a gente não fornecer as autorizações e contratos, eles não podem divulgar nosso projeto final e ajudar a conseguir trabalho. Fui me preparando pra ter que mudar de locação, pra ter que abrir mão da divulgação da escola, pra passar stress com burocracia, ligar pra fulano, encontrar sicrano, explicar dez vezes o filme, garantir que não ia importunar ninguém enquanto filmava, essas coisas que a gente sempre promete quando tá pedindo autorização pra qualquer coisa.
Pra filmar aqui no apartamento, precisava da autorização da administração do prédio. Menos mal, a garagem ia precisar também, então pelo menos é um papel só. Esperava que fossem me encher o saco, pedi ajuda pro Wyll, que tem os contatos com a mulher da administração. Deixei o papel preenchido com ele na Quinta passada, à noite. Explicava o que eram as cenas que eu ia rodar, a data, e o tempo que eu ia levar. Sexta de manhã o Wyll me fala que o papel já tá com ele, assinado, e a manager ainda ofereceu ajuda, se algo der errado. Uau, impressionante, por essa eu não esperava.
Passo 2, tenho uma sequência que se passa num beco entre duas ruas movimentadas. Precisava da autorização do film office – órgão da prefeitura. O formulário tem quatro páginas pra você detalhar uma pá de coisas que – claro – podem estar erradas também e alguém vai implicar no processo. Mandei o pedido na Sexta feira, 9 da manhã. Não era uma da tarde quando chega a autorização, uma mensagem super meiga e um sonoro “boa sorte!” com smilezinho no final e tudo.
Tem certas coisas que a diferença entre Vancouver e Brasil é grande (porque tive esses problemas filmando em várias cidades e estados), mas essa foi DE LONGE a que mais me surpreendeu até agora. Só me resta torcer pra não ter neblina no Domingo, e aí vai ser tudo lindo e maravilhoso. Torçam aí também!
Hoje eu comecei o dia com a perspectiva de uma única aula, à noite, das 19h às 22h, então, tudo para ser um dia super produtivo. Estranhamente, no meio de uma semana de pura neblina ao amanhecer e anoitecer, hoje o céu tava limpo e tivemos um nascer do Sol surrealmente bonito. Só vi as fotos aparecendo no feed do instagram e facebook. Antes disso, quando abri a cortina e vi que tava tudo limpo lá fora, fui correndo pegar a câmera pra fazer testes e (se tudo der certo) versões finais de coisas pro demo reel. Fiz umas costuras de fotos que somam 90mp e cada uma tem 500mb, para fazer camera projections – mais sobre isso nas próximas semanas. Ainda no clima de aproveitar esse tempo aberto, fiz cinco variações de HDRIs aqui no quarto (aqueles panoramas 360 graus, que a gente usa em 3D como mapa de reflexos e iluminação).
Com a câmera no tripé, parti direto pra garagem e fiz mais HDRIs e panoramas por lá. Não eram 9 da manhã e eu já tinha tirado 260 fotos – no total, essas todas foram convertidas em ONZE imagens, sem jogar nada fora. No processo de mesclar essas imagens, acho que aprendi todos os bugs do PTGui, e agora já tô indo mais rápido.
Dei uma geral na casa, lavei a louça, voltei a escrever no EOSHD e tô bem concentrado em fazer meu instagram ir pra frente. Acabei de perceber que nunca postei meu link aqui, então, lá atendo pelo nome de hovering lights. A estratégia é postar três fotos por dia, pelo menos, uma de manhã, sobre lentes, anamórficas, curiosidades, de tarde, algo mais livre e experimental, seja de técnica, seja de fotos que gosto mesmo, e de noite são séries com temas claros, alternadas. Até agora, são pouquíssimas fotos NOVAS por lá, tô reciclando um MOOONTE de coisa, afinal, quase dez anos de fotografia, alguma coisa tinha que prestar, né? Enfim, passando as filmagens do demo reel, nesse fim de semana, já tô combinando com a May de fazermos novas séries e idéias. Tenho que aumentar o público pra quando o demo reel estiver ficando pronto!
Fora essas coisas de computador, de Terça pra Quarta eu tive um sonho MUITO louco, que ainda tô considerando se posto aqui ou não – sério, era muito narrativo! – e quando sentei pra escrever, antes de ir pra aula, levei meia hora, sem parar, e quase me atrasei – que era uma das situações no sonho. No caminho, deixei o celular cair e acertei um mega chute no coitado que saiu escorregando na calçada. Fui correr pra pegar, deixei cair minhas luvas, voltei pra pegar, vi o ônibus passando (mais uma coisa que era bem presente no sonho) e saí correndo feito condenado pra alcançá-lo. No fim, nem me atrasei.
Terça eu reservei o estúdio de greenscreen da VFS, e um monte de equipamento de luz, e montei minha basezinha lá pra filmar com o Fernão umas coisinhas rápida pra usar no reel também. O Petar tava por lá e me ajudou a matar uns flares, posicionar luzes e foi um stand-in valioso. Com o Fernão, filmamos menos de dez minutos e já tinha material de excelente qualidade – amanhã posto um frame divertido. Depois, fizemos um photoscan rápido (ver meu instagram pra fotos disso) e depois desproduzimos tudo pra devolver.
Já que esse post tá totalmente aleatório, vou assumir a linguagem e cada parágrafo vai falar de algo (provavelmente) desconectado do anterior. Pelo lado bom, o título vai fazer sentido e vai dispensar qualquer título alternativo – que já tá virando tendência por aqui.
Terminei de traduzir o TCC, como vocês devem ter visto, e tenho recebido BASTANTE feedback legal, tá se provando um texto de grande valor agora que ele atingiu seu real objetivo: popularizar o conhecimento, de forma global. Já fiz novos contatos – em vários países – por conta dele, e o tema das anamórficas tá longe de morrer, o que é definitivamente positivo. O número de visitantes no blog por dia praticamente triplicou só por causa desse treco!
Ontem minha mãe ligou pra cá, pra skypearmos. Durante a conversa ela falou várias vezes que eu tava com uma cara diferente e tava parecendo bem mais animado. Me sinto mais animado mesmo, mas não achei que era tão fácil de perceber assim! Hoje, meu pai ligou. Conversamos sobre… programação! Algo que eu realmente não esperava, e de súbito, meu pai faz o mesmíssimo comentário de minha mãe “você tá mais animado aí, hein Tito?”. É, acho que eles me conhecem mesmo! HAHAHA!
No tempo livre durante a tarde, me atualizei com Person of Interest – faltava ver dois episódios, ambos incríveis – e assisti American Sniper, que não é um puuuuta filme, mas tem seus momentos – tem uma cena particularmente foda, que faz o filme todo valer. Aí foi chegando a hora de ir pra aula, tomei meu banho, vesti minhas 3240283 camadas de roupas e saí de casa. Quando chego na esquina, tentando abaixar o volume do celular, clico na mensagem de um colega, avisando que a aula foi cancelada. QUE SORTE QUE EU NÃO TINHA ENTRADO NO ÔNIBUS AINDA! Dei meia volta e cá estou, escrevendo esse post, criando coragem pra escrever mais um, em inglês, ou algum dos outros dois super-elaborados em português que estão fazendo aniversário nos rascunhos. Bom, esse aqui já deu o que tinha que dar.
AH! Um último comentário solto. Enquanto tava em Salvador, consertando o computador de Lila, com Lila – Madalena conseguiu jogar o notebook no chão – achei Worms Armageddon no Steam. Worms Armageddon é um clássico da minha infância, jogando HORAS E HORAS a fio com Sr. Pedro Alban e Leonardo Barreto. O jogo tem um modo single player com desafios e missões que a gente levou MESES pra completar. Resolvi comprar o jogo pra ter o que fazer durante o vôo de Salvador pra São Paulo. Nessa sentada, e mais duas aqui em Vancouver, consegui matar a porra toda. Eu lembrava de TODAS as missões e treinamentos. Ainda assim, foi muito divertido de jogar tudo de novo, sem ter que fazer mil gambiarras pro jogo funcionar no Windows 8 (como já tinha tentado e falhado miseravelmente no Win 7).
Menti, e tinha mais um parágrafo solto. Semana passada eu fui atrás de soluções práticas pra umas questões de luz do demo reel – e da casa também. Desde que peguei um abajur jogado no lixo, a iluminação da casa deu uma melhorada. O problema é que a tomada mais bem localizada do apartamento inteiro tava pifada desde que a gente se mudou. SEIS MESES morando aqui, e eu não tinha consertado essa maldita. Então, um dia de tarde eu passei na Dollarama, comprei um jogo de chaves e vim pra casa arrumar essa parada. Minha sorte: acho que comprei o ÚNICO jogo de chaves, na história do universo, incapaz de desparafusar qualquer coisa. Resultado, não consegui arrumar. No dia seguinte, aproveitei a tarde livre pra comprar OUTRO jogo de chaves (cada um foi $2, então o prejuízo é pequeno), e passar na Home Depot à procura de outros itens valiosos – alicate, fita isolante, voltímetro, um dimmer e uma lâmpada melhor pro abajur. Achei tudo, e gastei umas boas horinhas arrumando a fiação – tem um fio morto lá dentro, que não passa energia por nada no mundo – mas agora temos tomadas operantes, um abajur sucesso, com dimmer e tudo, e a casa vira um pouco mais nossa.
Apesar de ainda ser o décimo dia de 2015, parece que tem séculos que voltamos do Brasil. Esse post vem na rebarba das reflexões do trajeto Vancouver – São Bernardo – São Paulo – Salvador – São Paulo – São Bernardo – Vancouver em menos de duas semanas. A sensação de “visitar” esses lugares todos onde morei por vários anos e me sentir um hóspede em cada um deles foi algo totalmente diferente. De não ter obrigações de fazer nada, de poder ficar à toa o dia inteiro, de não ter que sair pra comprar comida, de não ter que arrumar a casa, lavar a louça, essas coisas que geralmente sobram pro dono da casa. Ok, em São Bernardo eu tava na casa da May, e nunca tive um quarto lá (mas já aluguei bastante o beliche de cima!), mas em São Paulo, entrar no apartamento foi a primeira das experiências.
Era o mesmo lugar, o mesmo espaço, o mesmo endereço, os mesmos objetos, mas ao mesmo tempo, parecia algo totalmente diferente e novo. Lila tá morando sozinha lá já tem quatro meses – e já tem seis que eu saí – então tava BEM a cara dela. O nosso quarto (meu e da May) tava quase igual ao que era, com todas as roupas no guarda-roupa, penduradinhas, todas as caixas e restos de equipamento que eu tinha deixado organizado, tudo exatamente no mesmo lugar, como congelado no tempo. Acho que nunca ter passado tanto tempo longe foi justamente o que me trouxe essa sensação, de que a casa toda tinha andado, mas o meu “eu” daquele apartamento ainda era o mesmo, que usava as mesmas roupas, lia os mesmos livros e quadrinhos, e dormia na sala assistindo TV quando a May não tava lá pra gente dormir junto. O eu que leva as garrafas de água da geladeira pra deixar do lado do sofá e não ter que levantar pra pegar depois. Que come bolacha Maria com requeijão assistindo série, sei lá. Se eu tivesse ficado em São Paulo, pode ser que nada mais dessas coisas fosse verdade.
Essa foto é tão velha que eu nem lembrava que um dia esse quarto tinha sido tão caótico. Dessa configuração até a configuração de móveis, cama, armário, que deixei pra trás, o ritmo das mudanças era quase constante. A cada mês ou dois a gente trazia algo novo, inventava algo pra mexer, trocava coisas de lugar, pendurava algo na parede, melhorava a cortina. Parecia que o lugar tinha vida própria, mas acho que a vida dos lugares quem faz são aqueles que os habitam – eu juro que ainda não achei as palavras pra traduzir a sensação de tempo parado, por isso que ainda não mudei de assunto.
Acabei ficando pouco tempo por lá antes de ir pra Salvador – menos de 24h. E mesmo esse intervalinho já foi tempo mais que suficiente pra pausar o Tito-Vancouver e apertar play no Tito-São-Paulo. Dormi no sofá, vendo TV, já que a May não tava comigo. Espalhei um monte de equipamento no tapete da sala pra arrumar nas mochilas – como faria na véspera de uma diária – rearrumei caixas, joguei coisas fora, li mais um tanto no sofá, enquanto ainda tinha luz lá fora, me livrei de todos os casacos e vesti bermuda e camiseta – que estavam abandonadas no guarda-roupa, vale lembrar. Roubei um chinelo de Lila, pra manter a tradição.
A sensação é que a vida em São Paulo não tem o drama do desconhecido que a vida aqui tem.
Aí veio Salvador. Salvador já tinha um quê de “passado”, porque nossos quartos (o meu e o de Lila) praticamente não são usados quando a gente tá por lá, e quem usa mesmo a casa é minha mãe. Em Salvador eu deixava as roupas que eram muito velhas ou inadequadas pra São Paulo – muitas bermudas, roupa de banho, infinitas camisetas da Paperball, infinitas camisetas do Arraial, essas coisas. Acho que os seis meses passaram sem ninguém nem abrir as gavetas daquele armário.
A casa em si tem bastante vida e tá sempre mudando, mas o quarto eu acho que não muda nada desde que fui pra São Paulo em 2008. Na verdade, eu tô sempre me empenhando em esvaziá-lo toda vez que apareço. Primeiro tirei o computador, depois fui jogando fora o monte de tralha que se acumulava lá por conta da Paperball – restos de equipamento, roupas estranhas pra figurino, cadernos meio escritos – e roupas que entre uma visita e outra acabam ficando velhas e dôo adiante. Teve uma vez que achei OITO mochilas diferentes dentro de um dos armários. Enfim, tô começando a viajar demais.
A grande diferença em Salvador não foi a sensação da casa em si, mas sim a programação e atividades, foi ver que todo mundo segue sua vida. Foi encontrar com Fabute, Cogo, Deígo, Donk, Piu, Eliza e Nanda uma vez só em quase uma semana, ter um reg que não era lá em casa, ver todo mundo capengando de sono antes da meia noite por causa de trabalho, acabar o reg sem ninguém bêbado, ficou uma sensação de que a gente tá mais sério, mais adulto. Não sei se é verdade, só sei que foi a impressão que fiquei. Pode ter sido uma grande piada onde eu era a vítima! Foi um reg tão diferente que até ouvi histórias novas sobre acontecimentos recentes, e não repetimos histórias clássicas. Hahaha!
Se a vida em São Paulo não tinha o drama de Vancouver, a vida em Salvador não tem nem a seriedade da vida de São Paulo. Em Salvador eu absolutamente não ligo pra nada – se eu tô com cara de arrumado ou bagunçado, que horas eu acordei, ou se tenho que fazer algo no dia, eu juro que perdi a conta dos dias da semana! Salvador também tem seguranças que só existem lá: sempre tem muitas opções de comida na geladeira, sempre tem chocolate na despensa, sempre tem uma brisa boa pela janela, sempre tem mosquitos pra chuparem nosso sangue no deck e, se deixar, Kiko sempre entra no quarto pra dormir, mesmo que eu fique no computador até quase o dia nascer – o que é a coisa mais fofa do mundo.
May e Kiko
Voltando ao quarto, sem Kiko, por enquanto, descobri que boa parte das camisetas tava com um cheiro e textura estranhas. Mofadas! Muito tempo guardadas, exatamente como tinham sido deixadas. Essas coisas que a gente deixa são de “outros eus”, um eu que usa bermuda, chinelo e camiseta da Paperball, em Salvador, que come pão de mel e passeia de carro com minha mãe, que adora o calor e vive no calor, que brinca com gatos de manhã, de tarde e de noite. Um eu eternamente de férias e sem agonia pra nada. Um eu que sonha com trabalhar com filmes e fotos.
Em São Paulo, um eu que trabalha com filmes e fotos, que tem equipamento em casa, que corta fio, conserta cabo e desmonta lente, um eu que lê sobre cinema e (uns poucos) quadrinhos, que assiste tanto filme e série que tem um HD conectado direto na TV, com os melhores, pra ver coisas repetidas. Que sai de carro de madrugada pra não pegar trânsito – e mesmo assim não consegue evitar engarrafamentos -, que pede pizza pro jantar, que assiste Walking Dead com Lila e May no sofá da sala, comentando os dramas de uns episódios e reclamando do ritmo arrastado de outros. Que joga Catan com frequência, que compra coisas no eBay e torce pra elas escaparem da alfândega. Um eu que sonha em trabalhar com pós-produção.
Finalmente, estamos de volta em Vancouver. Vancouver ainda é novo. Seis meses é muito tempo no ritmo da VFS e pouco tempo no ritmo da vida. Acho que é esse desencontro relativo que faz as coisas parecerem estranhas. Tem cinco dias desde que as aulas começaram e a sensação é de cinco semanas. Cada dia é ridiculamente longo e tem muitas e muitas coisas pra fazer, sem contar com as coisas que não são da VFS. Acho que é por isso que quando tem dia sem aula, a última coisa que me passa pela cabeça é ser produtivo. Hoje a gente passou o dia todo largado aqui, sem fazer NADA – jogando Worms Armageddon de manhã e assistindo MasterChef Brasil de tarde – e pra mim foi um dia ótimo.
O meu eu de Vancouver ainda não tá definido. Ele tem rachaduras, porque é como se fossem dois eus, num mesmo lugar. Eu-VFS e eu-Casa, sendo que cada um deles tem como objetivo máximo forçar o outro a adotar seu próprio ritmo. O eu-Casa quer que eu vá devagar e faça menos coisas por minuto. O eu-VFS quer acelerar até o fundo pra evitar a pressão de não estar indo rápido o suficiente, e continuar ajudando o resto da turma em tudo que pode.
Nessa maluquice de dupla-realidade, quem mais se quebra é quem tá por perto e tem que conviver com as duas identidades: a May. Acho que se eu fosse ela, já teria perdido a paciência comigo, porque em muitos momentos até eu mesmo perdi a paciência comigo, mas ela não desiste. Eu não sei se morar sozinho seria mais fácil, mas acho muito difícil vencer a companhia de alguém que dá tanta coragem e inspiração pra ser uma pessoa melhor.
Depois de falar tanto dos quartos e casas passados, vou encerrar com essa foto do apartamento, que agora tá em sua versão mais “estável”, depois de muitas e muitas mudanças ao longo de cinco meses – quando eu cheguei aqui, era só um colchão no chão, uma poltrona, notebook e umas mesinhas que nem existem mais. Se os outros dois quartos estão congelados, esse aqui tá muito vivo, mas apesar de fazer tudo que é responsabilidade do anfitrião – lavar roupa, lavar louça, essas coisas que já falei – o desencontro de ritmos e o caráter incerto da estada após o curso me impede de ver esse apartamento como uma casa oficial. É engraçado, curioso e um pouco triste.
A jornada de volta pra Vancouver foi longa e cansativa, acho que pelo simples fato de termos que ficar parados, sentados, por literalmente um dia inteiro até chegarmos em casa. Embarcamos dia 31 de Dezembro, o que, em São Paulo, é um pedido de engarrafamento, então saímos de casa super cedo e chegamos no aeroporto às 16h30. O vôo era 22h30. Tava tão cedo que tivemos que esperar o guichê da AirCanada abrir pra podermos despachar as malas. Lá dentro, toneladas de café, leite condensado, feijão e doce de leite.
O tempo ocioso abriu a cabeça pra muitos pensamentos e reflexões latentes dos últimos dez dias, e vou tentar colocá-los por aqui de forma razoavelmente organizada.
Primeira impressão ao chegar no Brasil, dia 20 de Dezembro: caramba, como a gente fala alto nesse país! Só de desembarcar eu já sentia que sabia em detalhes a vida de todo mundo ao meu redor. As pessoas falam aos gritos mesmo, ou foi só uma impressão minha? Talvez seja a familiaridade com a língua, que me faz entender coisas mesmo sem prestar atenção, mas o bombardeio de informações foi surreal, e a sensação durou até voltarmos pra cá. As conversas são umas coisas loucas, de um falando por cima do outro, assuntos totalmente não relacionados rolando simultaneamente entre as mesmas pessoas, crianças literalmente berrando por qualquer coisa, uma loucura. Acho que nunca teria reparado nisso se não tivesse passado esse tempo aqui, e e não fosse um sujeito quieto como sou. Definitivamente é mais caloroso, mas tem horas que o juízo cansa, acho que por falta de prática mesmo. Nessas horas eu fugia pro meu quarto e ia ler – mas sempre acabava dormindo.
Outra coisa: o clima! Falei no título do outro post, mas não cheguei a aprofundar. Cara, como esse calor tropical é a coisa mais maravilhosa do mundo. Me recusei a usar o ar condicionado em Salvador, e quando acordei pingando suor o primeiro pensamento era “que coisa maravilhosa é essa temperatura!”. São Paulo tava mais abafada, e de vez em quando dava uma sensação de forno, sem a brisa soteropolitana. Aí era um pouco demais, mas ainda assim, preferível mil vezes que o frio de zero graus que é a temperatura padrão do inverno por aqui.
Já no caminho do aeroporto pra casa da May, tivemos ótimas experiências de trânsito, com fechadas, ultrapassagens pela direita, buzinas, farol alto e tudo mais que se tem direito. É bizarro, mas senti alguma falta disso aqui também. É tudo tão calmo e tudo funciona tão bem que acaba faltando aquela válvula de escape onde você xinga todo mundo e qualquer um dentro do carro de janelas fechadas sem correr nenhum risco e sentir que tem toda a razão do mundo. Trânsito é, sem dúvida, quando eu mais xingo e fico puto no dia-a-dia brasileiro, e aqui nem trânsito existe, pra começar.
Mais uma observação curiosa, meu volume de roupas indo de Vancouver pra São Paulo: calça jeans, calça fina por baixo, meias grossas, bota, blusa térmica, dois casacos e duas luvas (uma por cima da outra). Chegando em São Paulo, me livrei de tudo isso. O plano era ir pra Salvador de calça, bota e camisa de manga comprida, porque eu sempre passava frio no avião, mas tava tão quente e tão agradável no nosso apartamento que resolvi correr riscos e fui de bermuda, chinelo – de Lila, quatro números menor que meu pé, amarelinho! – e camiseta – da Paperball, claro. Não me arrependo. Acho que a gente acostuma mesmo com o frio, e enquanto tinha uma galera de calça e casaco do meu lado, eu tava super de boa naquele ar condicionado furreca. Só a chance de usar bermuda ao invés de calça já é uma bênção!
Levei uns dias pra acostumar com as seis/cinco horas de diferença no relógio, e quando tava começando a entrar na linha, voltamos. Agora tenho que reacostumar com a loucura daqui, e rápido! Era engraçado só começar a sentir sono lá pelas cinco da manhã, e agora continua estranho acordar completamente às 4, porque a sensação é de 10 da manhã.
Falar português com todo mundo também é uma grande diferença. Não ter a necessidade de pré-traduzir tudo que se quer comunicar acelera o processo mil vezes, e as palavras vêm MESMO com muita facilidade. O mais diferente mesmo não era nem em casa, porque aqui a gente sempre fala português em casa, mas sim coisas pela rua, lojas, mercado, serviços. Diego até me corrigiu, porque eu tava falando português com a ordem das palavras em inglês, no nosso natal Paperball.
Paperball e minha magreza num encontro natalino.
Passei raiva em casa e nos aeroportos por causa do maldito padrão louco de tomada. Claro que eu não tinha lembrado disso, e fiquei sem bateria em diversas ocasiões.
Tenho mais coisas loucas pra falar sobre estar nos lugares que estive, casa, apartamento, casa da May, mas vai ficar pra um outro post, que a bateria tá morrendo, pra variar.
Hoje faz dez dias que saímos de Vancouver rumo ao Brasil para passar o break de fim de ano. Não foi muito planejado, a gente tinha pensado em ir pra Los Angeles primeiro, e acabamos mudando de idéia em cima da hora. Uma das decisões mais acertadas de todas, porém!
Comecei a escrever esse post no dia 20, antes de ir pra Salvador, e acabei não indo além do título. A primeira coisa diferente, no momento em que chegamos, foi o ar quente invadindo o avião quando a porta foi aberta. “Ah, agora sim eu tô em casa!”. Ao longo da viagem, vim traduzindo loucamente o TCC, como dá pra ver pelos posts anteriores. Tinha vários planos pra essa pausa, pesquisar coisas, ler coisas, fazer coisas, adiantar idéias do demo reel, e a lista segue. Trouxe até um livro old-school sobre efeitos visuais e cinematografia, pra estudar nas horas vagas. O ponto é que aqui todas as horas são vagas. Posso dizer que fiz esforços no sentido de ter menos obrigações e compromissos durante minha passagem, do que teria normalmente, se estivesse visitando Salvador ou São Paulo.
Chegamos no aeroporto e logo encontramos a família da May que tinha ido nos buscar, com o Dobby e tudo, de lá, viemos pra São Bernardo, e fiquei até o finzinho do dia. Depois, pro apê em São Paulo, já que ia viajar no dia seguinte pra Salvador. No apartamento, sensações muito loucas. Ao mesmo tempo que era o mesmíssimo lugar, muita coisa tava diferente, me senti completamente em casa, mas ao mesmo tempo com um fiapo de consciência de que não era minha casa de fato. Seis meses parecem infinitos no ritmo que a gente tá andando em Vancouver. Deitei perto de meia noite pra dormir e fui assistir um filme qualquer pra distrair as idéias. Vi três filmes e reassisti uma série inteira, só consegui dormir às 6 da manhã (meia noite em Vancouver), porque fechei os olhos e acreditei que precisava dormir.
O apartamento tava vazio, porque Lila tá em Salvador até o fim de Fevereiro, então toda a comida que tinha ao meu alcance era o que tinha vindo na mala (chocolate! nozes, amêndoas e uvas passas) e o que desse pra achar em casa – uma granola natural muito boa, e uns biscoitos de côco. Foi o suficiente, considerando que acordei já quase na hora de sair pro vôo. Pensei que ia de tênis, calça e camisa de manga comprida, mas de noite já tinha sentido tanto calor – calor que não sentia há meses – que acabei decidindo ir de chinelo (de Lila, amarelinho e muitos números menor que meu pé), bermuda e camiseta. Se eu comparasse o peso entre as roupas que vim de Vancouver e as roupas que fui de São Paulo, não ia chegar nem a um quinto.
De cinco dias em Salvador, fiz só o que dava na telha. Quero ir na praia, vou à praia, quero ler, leio (e durmo depois de cinco páginas). Acho que nunca dormi tanto, tão espontaneamente como nesses dias aqui, e dormir nunca me incomodou menos – geralmente quando durmo de tarde fico pensando que podia fazer algo mais produtivo, etc etc. Encontrei o povo da Paperball, no reg mais tranquilo de todos os tempos, conversamos um bocado, depois voltei pra casa, com carona de Fabute. Desde o primeiro dia, tava com uma sensação estranha, de que as pessoas não tinham lá muita curiosidade sobre o que a gente tava fazendo, ou sobre a vida em Vancouver, sei lá. Foi só conversando com minha mãe que deu o estalo que a vida continua e é isso mesmo, nada ia estar do mesmo jeito que tava a seis meses.
Dia 23 chegaram o Geja, Heneile e minha vó, de Itapetinga. Juntaram-se com Tio Fê, Tia Ká e Mel que já estavam lá em casa, e agora tínhamos um fuzuê constante de pessoas pra um lado e pro outro, fazendo um monte de coisas diferentes e a liberdade pra escolher que programação parecia mais interessante no momento, ou também nenhuma programação. Minha vó levou uns doces MARAVILHOSOS, e não há dúvida de que comi muito mais doces que salgados nesses dias! Essas comidinhas únicas fazem falta e a gente nem percebe. Nossa cerimônia de Natal foi muito bonitinha, super simples e com comida de sobra – cortesia do par Fátima e Netinha.
Me senti um dos gatos da casa, ia pra um lugar, deitava e dormia, levantava pra comer qualquer coisa, e depois deitava de novo com preguiça. O livro era muito bom, com coisas muito interessantes, mas o calor dá um sono que ninguém encara. Li uns pedaços e me inspirei pra tentar umas coisas novas quando voltarmos pro Canadá. Tiramos uma tarde com Cogo e Lila pra fazer fotos pro Geja, que a qualquer momento devem começar a aparecer no site e nos canais de vídeo. Todo mundo se divertiu no processo, além do resultado ter ficado sensacional. Além disso, peguei mais umas horas com Cogo pra apresentar (e testar) o Nodal Ninja com a olho de peixe, que resolvi comprar pra fazer panoramas e HDRIs, itens úteis no processo de demoreel, e mais coisinhas técnicas confusas o suficiente pra me despertar interesse. Já tem um tempo que tô pensando num esquema pra colocá-los aqui no blog. Quando rolar, eu aviso.
Madalena derrubou o computador de Lila no chão e passamos umas horinhas também arrumando o bicho. Foi um sofrimento pra conseguir backupear tudo pra um hd externo e reinstalar o Windows. Nesse tempo, aproveitei as promoções do Steam e comprei Worms Armageddon, o jogo mais clássico dos clássicos de infância, pra me divertir quando tiver poucos minutos disponíveis de jogo!
Indo pro aeroporto, tava trazendo a grua de Cogo comigo, pra ajustes em São Paulo, mas o lugar tava tão caótico que quase perdi o vôo só tentando despachar a sacola. Tivemos que abortar o processo, e saí correndo pro embarque com minhas malinhas de mão mesmo. Durante o vôo, sem sono, pra variar, fiquei jogando Worms! Coisas que levaram semanas, ou meses quando éramos pequenos eu consegui fazer em minutos, e meu objetivo de completar todas as missões do single player parece menos distante do que eu imaginava. De volta a São Paulo, fiquei mais um dia à toa em casa até a May chegar e sairmos pra comprar cafés pra professores em Vancouver. Eles não sabem o que é café de verdade – eu também não, mas acredito em quem sabe!
Resgatei uma lente que tava por aqui – em breve faço a introdução adequada da menina, mas já adianto que ela vai numa maleta de ferro com inscrições em cirílico – e acertei com o Padu pra levar o Kowa dele também. Quero tirar mais fotos e filmar mais ao longo dos próximos meses. O schedule aparenta estar bem mais leve do que os terms anteriores, e acho que pode ser uma boa experiência com meus coleguinhas de turma!
Fiz uma série de observações também, que devo desenvolver em outro post. Esse era só um review geral dos últimos dias, e UMA foto, pra ter algo pra mostrar! O break está sendo ótimo, e ainda tem dois dias passando em câmera lenta aqui na casa da May!
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