Day-to-Day

Los Angeles – Day Six

March 6, 2010

“Gooood morning, america!”. Hoje tivemos um dia bem mais light do que o costumeiro, e bem menos fotográfico também, para a infelicidade nossa e de vocês.

Acordamos cedo, bem cedo, às 6h50, para sairmos rumo ao nosso tour pelos Sony Studios. Nossos tickets estavam comprados para 9h30, então tínhamos muito tempo. Saímos do hotel umas 7h40, compramos nosso Day Pass (agora é moda) e entramos no primeiro ônibus. Descemos no entroncamento entre Fairfax e Venice (o mesmíssimo entroncamento do primeiro dia, quando estávamos desorientadíssimos), afinal, o estúdio fica em Culver City, para onde rumava o ônibus que pegamos no aeroporto.

Nesse entroncamento, agimos cegamente e pegamos um ônibus errado. Na verdade, era o ônibus certo, só que indo pro lado errado. Só percebemos o engano depois de uns quinze minutos, quando descemos, às margens de Downtown (o bairro mais perigoso de L.A.). Estávamos calmos, porque ainda era cedo, 8h50, e dava tempo de consertar o erro. As coisas foram ficando mais tensas quando nosso retorno foi se adiando em função do veículo que não aparecia. Quando apareceu, que conseguimos embarcar, uma das três funções a seguir estava sempre ativa, com objetivo de retardar a viagem:

1 – Os sinais estavam fechados, e tínhamos que parar nos cruzamentos.
2 – Alguém queria descer do ônibus.
3 – Se ninguém queria descer do ônibus num determinado ponto, alguém certamente queria SUBIR.

Acabamos parando em todos os pontos e sinaleiras entre Crenshaw – onde percebemos que estávamos indo na direção errada – e Jazmine, onde deveríamos descer. Quando desembarcamos já eram 9h40 e ambos estávamos relaxados (no nível de “aceitação da desgraça”). Fomos caminhando tranquilamente até a entrada, que erramos também, pra variar – no caminho, passamos pela frente de uma igreja onde um coral se posicionava e pessoas ligavam câmeras, luzes e microfones, sem comentar o trilho colocado na calçada. Paletamos mais um pouco até achar o centro de visitantes. Olha só que sorte: nossa tour ainda não tinha saído! As pessoas estavam vendo um vídeo que contava parte da história do estúdio e anunciava filmes e séries que ainda estão por vir. Entramos nos últimos trinta segundos de projeção. Viva os anjos de Los Angeles.

No nosso grupo, um casal belga, um casal de Baltimore, um sujeito de Long Island, um casal que morava algumas quadras abaixo, naquela mesma rua, uma mocinha da Alemanha, quatro brasileiros, dois sendo eu e o Geja. Os outros dois eram lucky guys! Áthila, vencedor do concurso You Pop You Rock, parceria entre Sony Music e YouTube, e seu acompanhante. O sujeito fez um clipe para uma música dos Detonautas e acabou sendo agraciado, entre outros prêmios, com uma viagem pra Los Angeles, com tudo pago, e direito a uma visita aos estúdios da Sony Pictures Entertainment. Conversamos bem pouco durante o tour.

Logo na entrada, passamos pela pequena cidade cenográfica do estúdio, menos versátil que a da Warner, mas mais útil também. Enquanto a da Warner é puramente cenográfica, na Sony, por trás das fachadas há dezenas de Production Offices, onde são arquitetadas todo tipo de produções. Vimos Will Smith e acenamos para ele, que falava ao telefone, ele retribuiu o gesto, comentando com quem quer que seja que estivesse do outro lado da linha “I’m weaving at the tour here!”. De acordo com Tony – nosso guia -, Will entra na categoria de Friendly Stars, e que, de certa feita, abraçou uma moça do grupo que fazia a tour. De acordo com Tony, “hugging, definetly, is a friendly act”.

Entramos no Thalberg Building, onde doze oscars ganhos pelo estúdio, por melhor filme, estão em exibição. A partir daqui, tivemos que manter as câmeras desligadas ao longo de toda a jornada. Na frente desse prédio foram filmadas todas as cenas de Spiderman em que aparecia a escola de Peter Parker, além de ser o cenário da formatura da turma. Uma pequena alameda de cimento, cercada de grama, já fez o papel de Central Park (em New York) diversas vezes, e que o truque está no Stablishing Shot, uma tomada, geralmente aérea, que mostra características bem definidas do local onde a ação se passa. No caso, uma tomada aérea do Central Park, seguida por uma tomada feita nessa pequena alameda, a milhares de quilômetros de distância.

Caminhamos um bocado, passando por alguins soundstages, inclusive aqueles em que foram gravados Singing In The Rain, The Wizard Of Oz e outros clássicos. Tony é um cara que gosta de músicas, então, entre o começo e o fim da jornada, tivemos referências de vários filmes e programas a partir de sua trilha sonora, improvisada na hora. Entramos no Stage 11, onde é filmado Jeopardy!, o quiz show mais famoso e mais antigo na história da televisão. Desde 1964, ele está no ar, e o criador do programa já faturou mais de 80 milhões de dólares só com o jingle de abertura. Isso mesmo, ele vendeu o programa para o estúdio, tudo, todas as idéias, mas como exceção, manteve os direitos para o jingle. Então, toda vez que alguém toca a musiquinha, ou toda vez que o programa vai ao ar, ele recebe um pagamento. Forma bem interessante de se viver, não?

Também ficamos sabendo que em Jeopardy!, todos os três competidores têm exatamente a mesma altura. As diferenças entre as alturas naturais são compensadas com uso de pequenas plataformas sob os mais baixinhos, permitindo assim que a câmera faça planos fechados sem ficar alterando de altura a cada concorrente. Sílvio Santos, essa dica é pra você! Descobrimos também algumas outras curiosidades sobre o show, mas como é coisa típica de americano, acabou não fazendo muito sentido para nós.

Saindo do palco do show, passamos por um estacionamento, onde Agers (funcionários do departamento de pintura responsáveis pelo envelhecimento e veracidade de um set) trabalhavam numa calçada e um Greener (sujeito exclusivamente responsável pela parte das plantas do cenário) literalmente colava galhos e folhas numa árvore, tornando-a mais “real”. A estrutura representa uma rua de New York, toda (paredes, chão, tudo) com base de madeira, sustentada por três containers localizados na parte de trás da construção. Esse local vai ser utilizado no filme Burlesque, com Cher e Christina Aguilera, que está sendo rodado no estúdio.

Passamos por um stage aberto, onde vários carpinteiros trabalhavam na construção de um ambiente para as filmagens do novo filme de Jennifer Aniston e Adam Sandler, com lançamento previsto para o ano que vem. Música alta e muitas ferramentas espalhadas, além das tradicionais estruturas de madeira. Por sorte, vimos um cabaré utilizado nas filmagens de Burlesque, cujas cenas já haviam sido concluídas e, portanto, estava sendo desmontado, parte por parte. Realmente incrível o trabalho desse processo de construir coisas para depois desmontá-las, reciclá-las, reutilizá-las, enfim.

Passando pelo Stage 15, entramos rapidamente para detalhes sobre o mesmo. Lá dentro, várias mesas retangulares estavam dispostas, lado a lado, com cinco cadeiras de cada lado, além de outras tantas mesas, preenchidas com pratos, bandejas, copos e talheres, sem mencionar a comida, incrivelmente cheirosa e bela. Tony ressaltou que é fundamental, em grandes produções, providenciar comida para toda a equipe, sem exceções. Eu já tinha escutado isso antes, mas nunca tinha visto a cena. Esse também é o maior soundstage da Sony, onde foi montada toda uma pista de corrida de cavalos, para o filme A Day At The Races. Debaixo do assoalho, o maior tanque de água , com capacidade para mais de um bilhão de litros, levando quatro dias até ficar cheio. O tanque foi construído por incentivo de Esther Williams, nadadora olímpica de nado sincronizado que depois passou a fazer filmes sobre o mesmo assunto.

Para encerrar nossa visita, fomos ao prédio Barbra Streisand, onde trabalham todos os artistas de áudio, de músicos a foley. É aqui que são gravadas boa parte das trilhas sonoras das produções. John Williams tem o estúdio à sua disposição a qualquer momento que desejar!

Como cereja no bolo, entramos numa sala caótica, precedida de uma ante-sala com a maior mesa de som que eu já vi na vida. A sala caótica era constituída de diversas estantes, abarrotadas de sapatos velhos, dos mais variados tipos, e com o chão forrado por vários pavimentos diferentes. Madeira, concreto, cimento, azuleijos, areia, grama. Por todos os lados víamos cadeiras, escadas, pedras, correntes, TVs antigas, um projetor no teto, panos e uma grande tela. No centro da sala, um suporte para microfone. Descobrimos, minutos depois, que esse era o escritório de Vincent Guisetti, artista de foley, responsável por (re)criar todos os sons que ouvimos ao longo de um filme.

Nos despedimos do grupo e fomos falar com os responsáveis pela tour para pegarmos nossas mochilas de volta. Ao descobrir que éramos brasileiros agradeceram em português, com um desajeitado “obrigadôu”. Rimos um tanto, tentamos explicar onde ficava a Bahia e tudo fez sentido quando dissemos que era “the land of carnaval”. Ganhamos até uma camisa de brinde!

Na saída, vimos as filmagens na igrejinha em frente, um pouco diferente do que existia na hora que entramos – aquele coral cantando gospel, lembram?

Pegamos nosso ônibus, ficamos famintos e descemos na primeira placa de PIZZA que avistamos. Depois pegamos mais ônibus para fazer feira e por fim voltamos pro hotel. Abortamos a programação da tarde em virtude da preguiça/cansaço. Griffith Observatory, aí NÃO fomos nós!

Relax, take it easy, folks! Tô devendo a vocês uma foto do hotel.

  • fatima March 6, 2010 at 6:03 am

    bom dia! acho que você filma tanto que seu texto parece que você está com a câmera na mão e a gente vai assistindo as cenas. eu queria ver a sala entulhada, aquela onde os sons são (re)criados…
    um beijo

  • Tito Ferradans March 6, 2010 at 10:28 am

    Mãe, realmente, essa é uma observação pertinente. Há algum tempo, aqui nesse mesmo blog, perguntei para mim mesmo e para vocês – leitores – onde se encaixaria, ou como podia ser definido, meu estilo de escrita. Sua explicação de agora acabou de derrubar a anterior mais aceitável.

    A sala de foley foi realmente o ponto alto da visita. Eu nunca tinha nem me dado ao trabalho de imaginar tal ambiente. E mesmo que imaginasse, duvido que fosse algo parecido com o que vi! hahhaha!

    ESQUECI DE COMENTAR UM PONTO IMPORTANTÍSSIMO!
    Quando estávamos saindo do estúdio, depois de tanto falar em Spiderman, o cara até apareceu! Tobey Maguire, em carne e osso, barba e óculos escuros, passou em nossa frente, usando um casaco azul e falando ao celular, com cara de ocupado. Genial!

  • fatima March 6, 2010 at 2:58 pm

    é um estilo ‘imagético’!

    beijos

    e para de me falar dessa sala que foi a coisa mais genial que ‘vi’ até agora, pois vai me dando comichão de querer entrar lá também.

    outros beijos