Day-to-Day

Los Angeles – Day Seven

March 7, 2010

Já que recebi críticas de que estamos ficando acomodados, vai aqui um dia bombasticamente aventuresco, salpicado de absurdos e improbabilidades matemáticas, companhias conhecidas, caixas de compras e metrôs.

Fica comprovado hoje que, quando não somos nós mesmos que damos um jeito de esculhambar nossas rotas, o acaso providencia os desvios. Acordamos de madrugada – 6h30 – para encontrar com Juliana no Aquarium de Long Beach. Saímos, entramos no metrô, linha vermelha. Na teoria, ao chegar na estação 7th/Metro Center, poderíamos fazer uma baldeação para a linha azul e descer no Long Beach Transit Mall. Pois bem, ao chegarmos na tal baldeação, descobrimos que a linha azul estava em reformas. Seguimos pessoas que procuravam o mesmo trem que nós. Depois da experiência com o japonês e o Griffith Observatory, aprendemos a lição. Entramos nesse tal ônibus que nos levaria até a Washington Station. Percorremos três estações da linha azul, num ônibus lotado de pessoas tão perdidas como nós. Por fim, chegamos a nosso destino. Sentamos.

Trem japonês, em operação desde 1989. A nossa era a última estação, literalmente. Pela janela víamos grandes nuvens negras no céu e promessas firmes de chuva pesada. Marcamos com Juliana às 9h. Já eram 8h20. Iríamos atrasar. O trem se pôs em movimento e no trajeto atravessamos uns seis ou sete municípios do condado de Los Angeles. Cada um totalmente diferente do anterior. Nas últimas estações a chuva desabou e já fomos nos preparando para nadar até o Aquarium. Quando descemos, as gotas já estavam bem reduzidas e a rota era clara como água (tô cheio de trocadilhos, notaram?). O Geja avistou Juliana de uma distância humanamente impossível. Enquanto comprávamos o ingresso de nossa querida acompanhante, ela comentou que a única coisa que lembrava do Aquarium foi a refeição que ela tinha feito lá na última visita, três anos atrás. Achamos um absurdo. Ah, e não estávamos tão atrasados assim, porque Ju atrasou vinte minutos, então ela só nos esperou por dez breves minutinhos.

Entramos, fomos tirando foto de tudo. Vimos um tanque de tubarões de várias espécies (tinha até um sorridente, estilo Bruce de Procurando Nemo). Toquei em um tubarão tigre jovem. É uma textura estranha, lisa, mole, macia e agradável. Quente, apesar da água fria. Primeiro momento mágico do dia.

O segundo momento mágico veio quando entramos na gaiola dos Lorikeets. O que são Lorikeets? Esses bichinhos multicoloridos e barulhentos da imagem abaixo!

Assim que entramos, olhei para um papagaiozinho e coloquei a mão diante do bicho. Ele pulou para meu dedo, alegre e espontaneamente. Pronto, ganhei o dia aí. Depois passei ele pro Geja, pra Ju, e de volta pro meu ombro. Alguns minutos depois, ele resolveu voar e, quando tentei pegar outros passarinhos, nenhum quis vir comigo. Na verdade, os dois outros que analisei tentaram arrancar meus dedos e por pouco não conseguiram. Tenho marcas para provar. Entretanto, o carisma da primeira experiência é que marcou a memória. Olha quanta simpatia.


Vimos mais tubarões, raias, leões marinhos muito divertidos e interativos, que gostam de nadar com a barriga pra cima e não tiram o pijama depois que acordam. A chuva ameaçou cair e saímos da área aberta do aquarium. Passamos por águas vivas, polvos e cavalos marinhos. Vimos uma reprodução, em tamanho real, de uma baleia azul, suspensa no teto do Aquarium. Sapos venenosos, ovos de tubarão e peixinhos de todas as cores e ambientes que conseguirem imaginar. A luz não era exatamente adequada então tive que apelar nas fotos. Gostei de muito poucas.



Na parte relativa a mares tropicais vimos aglomerações incomuns de crianças. O motivo? Aquários com peixes palhaço e linguados, os personagens de Procurando Nemo. Depois que o enxame de infantes se dispersou, consegui fazer umas imagenzinhas. Na mesma seção, vimos um polvo abrindo um pote com seus tentáculos para pegar a comida, localizada na parte de dentro do frasco.


Para o prêmio “Foto do Dia”, escolho essa de cavalo marinho. O bicho tem uma espécie de leme motorizado nas costas, uma nadadeira bem pequena e fininha, que bate o tempo todo, direcionando seus movimentos desajeitados em meio às algas e águas. Os filhotes são um caso a parte, miniaturas escuras dos adultos, e muito preguiçosos. Vimos também um modelito alien, com uma camuflagem muito louca. Parecia que o bicho tinha várias folhinhas nascendo nele. Surreal.

Por fim, o estômago reclamou e fomos verificar a tal “única lembrança” de Juliana. Um prato chamado Fish and Chips, constituído de… peixe frito e batatas fritas. Uau, não? Também acho meio contraditório venderem peixe frito num aquário, mas deixa pra lá. Ô comidinha deliciosa. Não é a toa que ela lembrava. Parecia pouco, a princípio, mas foi o suficiente para nos deixar satisfeitos. Cansados de tanta peixaria, tomamos o rumo do estacionamento onde estava o carro de Ju. Saímos e nos perdemos, quase indo parar num contâiner de navio e sendo contrabandeados para a Indochina. Sério, chegamos aos píeres da zona portuária de Long Beach. Saímos de lá numa jogada relâmpago pela Freeway (menos de vinte segundos, Juliana entrou em pânico) e encontramos nossa rota de volta para Torrance – casa de Ju, onde iríamos ensacar todas as nossas comprinhas virtuais que foram entregues por lá.

Empacotamos tudo, coisa para caramba, mais do que imaginávamos, mas ainda assim uma quantia aceitável para nossas malas e mochilas. A seguir, na programação iríamos ver Alice, no IMAX em 3D, mas tal coisa não aconteceu. Todas as sessões estavam lotadas, até a meia noite. Ficamos rodando pelo Del Amo mesmo, por um tempo, vendo lojas e mais lojas. Por fim, saímos rumo ao ponto de ônibus que começaria nossa (colossal) jornada de volta para Hollywood. O vento estava tão forte que Ju quase foi arrastada ao longo do estacionamento aberto. Fomos nos segurando até o carro. Quando fechamos as portas, a chuva caiu.

Ficamos esperando no ponto, dentro do carro, até o ônibus aparecer. A chuva aliviou, nos despedimos de Ju e fomos CORRENDO para dentro do nosso novo transporte, teoricamente até o LAX (Aeroporto Internacional de Los Angeles). Ah, nesse momento eram 17h10. O ônibus não foi pro LAX, descemos em um shopping totalmente desconhecido e embarcamos num outro ônibus que, de acordo com a placa, iria para uma estação de metrô. Mais uma vez agradecemos ao Metro Day Pass, que é nosso fiel companheiro contra dinheiro desperdiçado em transportes errados. Quase uns quarenta – talvez mais – minutos se passaram até que descêssemos na estação que, por sinal, não era a que imaginávamos. Entramos no trem e fizemos uma baldeação para a Metro Red Line. Mais duzentas horas andando de metrô até chegarmos em nosso destino.

Ao sair em Hollywood Boulevard a chuva caía com intensidade, o frio era cortante e cruel. Tememos pela saúde de nossas bagagens e pelas nossas, mas não desistimos da empreitada. Fomos andando e correndo, escolhendo sempre o caminho com a sinaleira aberta, até chegarmos no hotel depois das 20h, ensopados. As bagagens chegaram a salvo, secas. Ligamos o aquecedor e alternamos no banho (o Geja foi primeiro), porque ficar gripado no dia do Oscar é algo que ninguém merece. Eu, particularmente, não quero tossir na cara de Tarantino quando ele aparecer por lá.

Arrumei nossa contabilidade enquanto o Geja pegava no sono e agora estou aqui, terminando o post diário e detonando um cacho inteiro de uvas sem caroço.

Continuo devendo a foto do hotel, e aumento a dívida para um post inteiro dedicado aos novos brinquedos que estavam na casa de Juliana. Sério, tô com um arsenal completamente arrasador.

  • fatima March 7, 2010 at 6:23 am

    Tito, aqui temos ‘peerikeets’, que são brothers, or, maybe cousins, dos lorikeets! Realmente esse dia foi mais aventuresco. As fotos…as fotos… realmente: FANTÁSTICAS. A do cavalo marinho é top mesmo. Ele parece uma espécie improvável, tipo: essas ‘asinhas, num cavalo que anda dentro d’água….’ Vi no bina que vocês ligaram, eu estava no cinema, vendo “Só dez por cento é mentira – Desbiografia Oficial de Manoel de Barros” (ma-ra-vi-lho-so!). Leite quente, viu?

    beijos pros dois e mande um pra Ju quando falar de novo com ela

  • fatima March 7, 2010 at 7:01 am

    caramba. no comentário anterior, que voltei a ler agora, antes de fechar o computador, eu fui emendando um assunto no outroenoutroenoutro… Veja se dá pra entender…

  • Tito Ferradans March 7, 2010 at 1:34 pm

    Claro que dá pra entender! hahahaha! Obrigado! Os passarinhos eram muito bonitinhos e sociáveis. Sim, certamente são primos, de espécies próximas.

    Ligamos porque estávamos com o telefone mágico de Juliana, que liga de graça pra Deus e o mundo, contanto que seja fixo. Ligamos pra Tia K, pra dona Neta, e outros tantos. Enfim…

  • Jules March 7, 2010 at 8:13 pm

    Recebi o beijo, tia Fafá! Outro pra você!

  • luiz March 7, 2010 at 8:15 pm

    fale para o geja tomar nescau quente!!!!!

  • Fiuza March 7, 2010 at 11:02 pm

    Tou pra conhecer alguém que goste tanto de andar/correr na chuva quanto vc.

  • Tito Ferradans March 8, 2010 at 1:04 am

    Punchline do dia, no meio do toró, pelo Geja: “Sunshine state MY ASS!”. Para quem não entendeu, a Califórnia se autoproclama “o estado onde o Sol sempre brilha”.

    Esqueci também de comentar sobre o experimento médico que testamos. Logo nos primeiros dias, o Geja comentou que o frio era tão intenso que se a gente ferisse a mão, nem chegaria a sangrar. Abrindo uma das caixas na casa de Ju, cortei o dedo. Ficou MUITO vermelho, e chegamos a ver o sangue, mas não saiu uma gota sequer. Frio pra caralho!