Day-to-Day

New York – Day Two.

March 20, 2013

O dia de ontem foi bem tranquilo, em termos de aventuras, afinal, era “só” a viagem e a chegada. Hoje já tivemos um tanto mais de ação. Vamos começar. Começo bom é cedo, então acordei uma hora antes do pretendido. Richard já tava se aprontando pra sair pro hospital, então fiquei aqui no meu quartinho, respondendo trocentos emails e confirmando tudo que ia rolar hoje, consultando mapas e fazendo anotações. Comi uns pães, tomei um banho quente e aproveitei a ocasião pra estudar as linhas do metrô (o plástico protetor do chuveiro tem um mapa). Saí às 9h30.

O dia estava lindo. Chovendo que só a desgraça, frio pior que a desgraça, neve e gelo pra todo lado na rua. Achei que seria uma excelente idéia passear pelo Central Park e pegar o metrô um pouco mais pra baixo. Segui para lá e entrei no parque. Juro que achei estranho não encontrar com ninguém, mas, deixei pra lá. Pensei que todo mundo já tava trabalhando, essas coisas. Todas as árvores estão sem folhas, todos os gramados estão cobertos de neve. As trilhazinhas mal estão visíveis, com bastante gelo – escorregadio – em cima. Já fui achando incrível e tirando várias fotos – quando o sujeito nunca viu neve, é bem fácil ficar encantado. Depois de uns cinco minutos lá dentro, fui percebendo porque não tinha ninguém mais por aquelas bandas. O frio era assassino. Nas partes mais altas, batia um vento daqueles de chegar nos ossos, nas partes mais baixas a neve alagava os sapatos.



Central Park, congelado

Nessa situação, o que fiz? Liguei o foda-se. “Tô no Central Park, e vou ficar pelo menos meia hora nessa bagaça, e me divertir no processo. O conceito de diversão aqui era “manter a circulação nos dedos e fazer caretas pra descongelar o rosto” (eu tava falando em slow-mo por causa do frio). Lá pras tantas, percebi que não sabia mais se tava indo pro norte ou pro sul, pra leste ou pra oeste, e resolvi sair. Descobri que tinha dado uma volta imensa, e saído do outro lado do parque, como se tivesse ido reto. A essa altura, meu sapato já tava encharcado, as luvas também, o gorro e a mochila também. As calças, blusa e casaco ainda resistiam. Olhei no relógio e vi que minha “diversão” tinha durado uma hora e meia. Tava na hora de ir pro centro da cidade, entregar a primeira lente.


Grand Central Station

Alguns poucos minutos dentro do metrô são mais que suficientes pra descongelar uma pessoa. Já fui voltando a sentir os dedos, nariz e pés, enquanto continuava fazendo caretas e abrindo e fechando as mãos. Dei uma de curioso e saí na Grand Central Station, que seria o equivalente da Sé em São Paulo, tirando a parte do caos e acrescentando a parte de que lá passam TODAS as linhas de metrô de NYC. O visual tem um quê da estação da Luz, mas mais refinado – tudo em mármore, ou granito, enfim, pedra bege, colunas, lustres, e um salão central gigantesco – fiz umas fotos por lá também. Depois de ficar abismado, me orientei um pouco e procurei saber onde é que sai o trem que vou pegar amanhã. Voltei então pro frio e chuva da rua, agora já com mais pedestres, rumando para o Starbucks onde vi o vídeo do post abaixo.

No meio do caminho, percebi que estava adiantado e aproveitei pra passar no correio. Trouxe uma lente problemática pra mandar prum bróder consertar. Fiquei uns dez minutos lá dentro, andando de um lado pro outro sem saber o que fazer, até que me retei e fui embora. Depois eu descobriria como despachar.

Tinha marcado de encontrar um camarada no referido Starbucks. Camarada esse que estava interessado em comprar uma das anamórficas que eu tava vendendo. Ele chegou bem na hora, e a gente ficou lá analisando a lente e tomando chocolate quente. No fim das contas, fechamos negócio. Enquanto eu lutava pra fazer a monstra caber de volta no plástico bolha, uma senhora se aproximou, perguntando o que era aquilo, e explicando que também era fotógrafa. Pediu pra ver a lente, perguntou como funcionava, ficou impressionada com o efeito, e ainda mais impressionada com a capacidade de usar aquilo numa câmera moderna. Por fim, desejou sorte a nós dois e saiu. Ivan – o bróder que comprou – saiu em seguida. Eu fiquei mais uns instantes respondendo emails e tentando ver o vídeo, mas saí rápido também.

De lá, tinha que cruzar umas quinze quadras pra chegar no próximo endereço, o Broadway Dance Center, onde tinha uma moça que ia ficar com a segunda lente do dia – eu trouxe três. Conversamos um pouco, ela me deu indicações de onde comprar um sapato decente que não ia encharcar meu pé, e luvas. Agradeci e tomei o rumo da loja. Por – uma boa – coincidência, o caminho passava pela B&H, aquela famigerada loja de equipamentos-e-tudo-mais-que-você-puder-imaginar. Parei por lá.

Sobre a B&H: não posso morar numa mesma cidade que essa loja. Vou falir em uma semana. Fiquei babando com tudo, inclusive com os preços – que são bem mais possíveis que no Brasil, mas ainda fora do alcance atual. Fiz uma listinha de acessórios a comprar e volto por lá em breve pra buscar. A loja tem dois andares, e no teto do primeiro corre um labirinto de esteiras com cestas de compras identificadas, para facilitar a vida dos clientes. Uma coisa louca, digna de Harry Potter – a referência deles pra pensar aquilo TEM que ter sido Gringotes. Consegui sobreviver a mais esse desafio, e saí sem comprar nada.

Acabei não comprando nem luvas nem sapato porque estavam bem caros. Nessa parte do dia já não tava mais chovendo – tinha até um rascunho de Sol – e era mais vantagem ficar sem luvas do que com elas, por causa da água gelada. Fui então pra uma outra loja – menor – de fotografia, e passei mais um tempinho por lá. Não era tão interessante, mas deu pra divertir. De lá, caminhei mais um pouco e peguei o metrô de volta pra casa.

Em casa, respondi mais emails, descansei um pouco – tava andando praticamente sem parar, desde as 9h30, e já eram 4h30pm. Tirei o sapato encharcado, as luvas e o gorro e pendurei tudo perto do aquecedor do quarto pra secar. Pedi indicações pro Richard de onde encontrar sapatos impermeáveis e ele gentilmente me emprestou um. Nada supera um anfitrião gente boa! Pedi indicações também de como proceder nos correios. Joguei no Google e achei uns mercadinhos próximos, e uma loja da UPS (United? Postal Service).

Com o maravilhoso novo sapato impermeável, fui primeiro no mercadinho e comprei iogurtes, pão, manteiga, leite e achocolatado, afinal, não quero ficar explorando a comida do dono da casa! Deixei tudo por aqui. Já eram 7h30pm, então saí correndo pro UPS com a lente na mochila. Cheguei lá e não tinha ninguém além do atendente. Entrei já sendo honesto, e perguntando se ele podia me ajudar, porque eu não era dos Estados Unidos. Ele disse que sim, e perguntou de onde eu era. Respondi que do Brasil, e ele começou a falar em português. Tomei um susto do caramba, e perguntei se ele também era brasileiro. Descobri que se chama Israel, e é da República Dominicana, mas tá aprendendo português na marra, com os clientes mesmo. Fomos conversando em português, e falei que se eu dissesse algo que ele não entendesse, pra ele perguntar.

Israel já me arranjou uma caixa bonitinha – falou o preço da dita cuja – e arranjou também uns plásticos bolha a mais pra acolchoar o Iscorama. Na hora de preencher os dados do envio, ele disse que precisava de um telefone meu. Fudeu, não tenho. Vou colocar o número do Richard. Fuck! O papel com os telefones – QUE EU SEMPRE CARREGO – ficou no apartamento. Perguntei se podia ir buscar e voltar. Não levei cinco minutos. Enquanto isso, deixei lá a minha lente tão preciosa pra ser embalada. Voltei, e já tinha um camarada na fila. Israel explicou que já tava me atendendo e o sujeito deixou eu passar na frente dele. Fomos preenchendo tudo certinho, e a loja foi enchendo. No fim das contas, ele disse que a caixa era um presente pro amigo brasileiro, e que eu só precisava pagar o envio. Agradeci infinitamente – não é todo dia que se ganha um presente de R$20 de um desconhecido! E assim acabou a saga das lentes. Me livrei das três num mesmo dia. Acho que essa só volta pra mim daqui a uns três ou quatro meses, consertada, de preferência.

No caminho de casa, saquei o meu mapa da cidade – não desgrudo dele, ainda mais tendo herdado de meu pai a capacidade de interpretar um mapa muito rápido, e de minha mãe a capacidade de não me perder, mesmo estando perdido – e resolvi ir pra ponta extrema ao sul da ilha de Manhattan. Segui pela linha #1 até a última estação e saí pra rua. Já tava tudo quase escuro, começando a chover de novo, e bem vazio. Não consegui chegar na ponta da ilha por conta de umas obras, mas entrei no Battery Park, que cobre uma parte da margem do rio Hudson, frequentado por corredores e ciclistas. Tirei umas fotos escuras por lá, e meu pé começou a doer terrivelmente. Acho que o coitado sofreu hoje, porque fazia MUITO tempo que eu não andava tanto – e em condições tão adversas como meias molhadas e frio. Voltei quase mancando pro metrô e sofri pra chegar de volta em casa, mas sobrevivi.





Battery Park e redondezas

Por aqui, jantei coisinhas leves e desfiz minha mala toda. Vou levar ela amanhã pra Poughkeepsie pra resgatar meus artigos usados que andam por lá, com a Kimi. Ainda não sei se ela tá tendo aula, mas se tiver, vou aproveitar e ver umas aulas em Vassar College, que não pode fazer mal! Agora, é hora de dormir!

Ah, esqueci de falar das fotos! Tô com algumas que já eram pra ilustrar esse post, mas descobri que estou sem leitor de cartões, cabo usb e coisa que desempenhe essa função, então, tá tudo preso na câmera por enquanto, mas já estou trabalhando numa solução!