Há bastante tempo que tento assistir esse filme, com minhas tentativas frustradas por motivos diversos. Finalmente, hoje consegui assistir.
Algumas coisas podem ser observadas, além do fato de o roteiro ser brilhante e pesado, a abordagem ser pesada, mais pesada do que a maioria está acostumada, e o desenvolvimento é condicionado por uma série de repetições que nos fazem entrar completamente em cada personagem, em cada situação, desespero e crise. O roteiro é totalmente aceitável no dia a dia, ou seja, pode estar acontecendo algo parecido com o seu vizinho, ou com qualquer um e não seria nenhum absurdo, impossível.
A câmera está sempre muito perto dos rostos, nos aproximando mais do que gostaríamos, mais do que fazemos no dia a dia com quem está ao nosso redor. Isso força e facilita a ligação com os personagens. Câmeras improváveis, situações em que o mundo parece flutuar ao redor do protagonista, pelo menos pra mim, lembraram muitas situações reais. Coisas pelas quais você passa e fica ‘aéreo’, deslocado do resto, preso em seu mundo particular.
Sequências rápidas de imagens de objetos (como a das pílulas, ou da cocaína, entre muitas outras), não mostram exatamente o que faz cada personagem, mas, ao mesmo tempo, nossa cabeça processa e entende melhor do que entenderia caso fossem mostradas de forma direta e objetiva. O mesmo vale para os efeitos das drogas, das crises. Principalmente para nossa querida Sara Goldfarb, que tem alucinações.
O sujeito que planejou aquelas tomadas, dos dois um: ou já passou por aquilo e soube transformar bem para a linguagem cinematográfica, ou fez muitas pesquisas sobre os efeitos de cada situação mostrada.
O filme é tão “fechado”, bem elaborado, que não deixa uma brecha sequer para críticas negativas (da minha parte). A trilha monta as seqüências de forma magistral (prestando atenção, dá pra saber, só pela trilha, quando a cena vai cortar), expandindo a integração do público na história.
Tá deveras confuso, isso aí, mas acho que consegui falar tudo que queria. Se me vier uma luz, eu melhoro o texto. Sintam-se à vontade para fazerem suas análises nos comentários!
sei la tito.
senti tanto no formato do texto uma influencia do cineclube de sabado
(ou nao?)
acho q vc deve frequentar mesmo! vai ser legal pra voce!
Dá até raiva ver que vc só assistiu a esse filme agora. Mas que bom que assistiu!
Sei lá, o filme é introspectivo demais, me fez, à época, refletir quais eram os meus vícios – não só os de ordem alucinógena.
Acho que o filme nos traz, na verdade, não os efeitos da coca, heroína, anfetamina, mas sim o posto do ser humano como degradado pelas suas próprias “evoluções”. É a representação da destruição do ser humano como “zoon politikón”, onde são cortados pela raíz os princípios da vivência em sociedade. A amizade, o casamento, a integridade, tudo isso tem sido colocado em cheque por conta da necessidade cada vez maior de correr – correr para algo, correr de algo – contrariando a lógica social e instigando a individualidade, a competitividade, a solidão.
Abraço.
Um blog muito bom: http://pipocasetretas.wordpress.com/