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August 2009

Specials

Co-Respondentes – Parte III

August 20, 2009

Na ensolarada e tropical cidade de Salvador, Carolina Martins chega em casa pouco antes do almoço. A moça que cuida da portaria a chama e entrega o pacote que chegara.

— Que ótimo! Obrigado, Maria. Comprei um livro pela internet, já tava começando a achar que não iam entregar!

Enquanto sobe até o décimo andar, ela repara no remetente do pacote. “Rafael Porto?

Ao chegar à cozinha, já abriu o pacote e segura o livro com uma das mãos e o envelope do rapaz com a outra. Ela coloca o livro sobre a mesa e se concentra em abrir a carta cuidadosamente para não rasgar o papel.

Ela lê a mensagem, espaçando alguns sorrisos aqui e ali. Em seguida, dedica sua atenção ao livro, abrindo-o, deliciando-se com o toque da capa levemente enrugada pelo tempo e folheando as páginas amareladas. Por tanto tempo ela procurara aquela pequena preciosidade, e por um acaso do destino, quase não chegara a seu destino.

Numa mistura de apreço e educação, ela responde a carta, enviando-a naquela mesma tarde, a caminho da universidade.

Prezado Rafael,

Agradeço profundamente pelo envio do livro. Essa edição é bem rara, e eu tinha passado vários meses procurando por ele.

Gostaria de saber como faço para cobrir suas despesas com o envio.

Mais uma vez, obrigada.
Carolina Martins

PS: Não se preocupe, ele não vai sentir ciúmes. Ele nem sequer existe. Hahaha.

Day-to-Day

Bomba #2

August 19, 2009

Oppenheimer

Apresentando novo personagem. Robert Oppenheimer. Será que vai ter continuação?

Specials

Co-Respondentes – Parte II

August 19, 2009

Co-Respondentes

Cara Carolina,

Meu nome é Rafael, eu não te conheço nem você me conhece, mas, por engano, acabei recebendo algo que é seu. Pelo que vejo, nossos endereços são parecidos, apesar de muito distantes.

Como  o pacote parecia importante, providenciei encaminhá-lo a você o mais rápido que pude. Espero não ter causado problemas.

Atenciosamente,
Rafael Porto.

PS: Esse livro é brilhante!
PS2: Para conseguir seu endereço, tive que ligar para a loja e mentir que era seu marido. Espero que ele não sinta ciúmes disso. Foi por uma boa causa, eu acho.

Specials

Co-Respondentes – Parte I

August 18, 2009

Co-Respondentes

É um fim de tarde bastante ensolarado de uma quinta feira comum na cidade de Belo Horizonte. Rafael chega em casa depois de um exaustivo turno na agência onde trabalha. À porta de seu apartamento, depara-se com um pequeno embrulho que chegara pelo correio. Ele pega o pacote.

Destinatário: Carolina Martins
Rua da Aurora, 927, Ap 32.
01450-100

“Estranho… É meu endereço, mas, até onde eu saiba, aqui em casa não tem nenhuma Carolina Martins…”. Na cozinha, ele abre cuidadosamente o pacote e se depara com um livro. Perto do Coração Selvagem, por Clarice Lispector. Primeira edição, datada de 1943. No marcador de páginas, o telefone e endereço de uma livraria especializada, em São Paulo.

Rafael pega o telefone e disca o número indicado no marcador.

Laura atende o telefone, apoiando-o no ombro enquanto digita no computador à sua frente. Há várias pilhas de livros no local.

Livraria Clássicos Modernos, Laura. Boa tarde.
Olá, boa tarde. Eu gostaria de confirmar o endereço de entrega de uma encomenda.
Qual o número do pedido, senhor?
Poxa, eu não tenho essa informação comigo agora, mas o pedido está em nome de… –
Rafael faz uma breve pausa enquanto consulta novamente a etiqueta da caixa – Carolina Martins.
Sinto muito, senhor, mas só posso te passar esse endereço se você tiver o número do pedido.
Laura, olha só… O livro que eu encomendei é um presente para a minha esposa. Ela adora a Clarice Lispector, e o aniversário dela é amanhã, então, eu tô numa situação meio complicada. Você não pode mesmo me ajudar? Tô achando que cadastrei o endereço errado.
Ahh, tá, vou ver o que consigo. Aguarda um pouco que eu verifico para o senhor.
Estou esperando. Obrigado, Laura –
ele ouve o som das teclas sendo digitadas enquanto a moça faz a consulta no terminal.
Carolina Martins. Rua Aurora, 927, Ap 32, Salvador – Bahia, CEP 41050-100, confere? –
ela informa – Foi despachado anteontem, via SEDEX.

Bingo!” – ele pensa consigo mesmo enquanto anota o novo endereço.

É… É esse endereço mesmo… Bem, deve estar chegando então. Muito obrigado, Laura. Salvou minha vida.

Rafael já tirara o telefone do ouvido quando Laura percebe algo estranho na ficha de Carolina. Estado Civil: Solteira.

Err.. Senhor? – ele desliga o telefone sem nem sequer ouvir o protesto da moça.

Momentos depois, munido de papel e caneta, o rapaz  escreve uma breve carta para a tal “Carolina Martins” explicando a situação e colocando-a junto com o pacote que chegara a seu endereço por engano. Na manhã seguinte, o embrulho é despachado novamente, mas dessa vez para o destinatário apropriado.

Destinatário: Carolina Martins
Rua Aurora, 927, Ap 32
Salvador – BA
41050-100

Day-to-Day

Sou porque sou. Se não fosse, não seria.

August 16, 2009

Normalidade não é uma palavra que me abrange. Ou, pelo menos, tento ficar fora de seu alcance. Tento não ser o típico tipo de pessoa que você encontra pela vida  e esquece minutos ou horas depois. Sou uma mistura de tempos. Acho que o não me abarco pelo presente. Estou dois passos atrás, para muita coisa, e um passo a frente para outras tantas. Tenho um conservadorismo para relacionamentos que não é comum à minha geração. Gosto do novo, gosto ainda mais do útil. Não, não gosto do fútil. Não vejo graça no previsível, ele está por todas as partes. Me agradam todas as pequenas ações inusitadas e as coisas que ninguém faz ou diz. O acaso me impressiona sempre.

O mundo me parece coberto de fumaça e fuligem, disfarçando e encobrindo a tudo e a todos. Meu fingimento de normalidade é profundamente mais tedioso que a normalidade real. É meu disfarce, é minha fuga, é meu desafio lançado a quem tenta se aproximar. Juntando uma boa parcela de seletividade com “todo cuidado é pouco”,  surge uma pessoa de poucas conexões. Sou mais extrovertido quando virtualmente me coloco.

Quando triste, me calo. Quando sem graça, sorrio. Quando sem resposta, sorrio. Sorrio sozinho com memórias e músicas. Choro sozinho com músicas e memórias. Falo sozinho (talvez até demais: diálogos pluripersonificados), canto sozinho. Vivo sozinho. Gosto de pensar assim. Gosto de ser “Só Tito Ferradans”. Respondo por aquilo que me diz respeito e tento entender de tudo um pouco e ser bom em tudo que faço. Óbvio, nem sempre consigo. Mas garanto que não é por falta de esforço.

Sinto estar no caminho certo, mas tenho medo de ter pego alguma curva errada ao longo da viagem. Viagem sem sinalização e sem limite de velocidade. Viagem com destino comum a todos, mas de caminhos infinitamente diversos. A ideia aqui não é seguir um pronto. Faço minha trilha em meio a avenidas, prédios, árvores, rios e montanhas.

Não há necessidade de preocupação para com o fim. Mais cedo ou mais tarde, ele vai chegar. Se isso já é certo, definitivamente, é suficiente para mim. Quanto mais se pensa no fim, mais se aproxima do fim. Mais se perde do ‘durante’.

Alma inquieta procura: iluminação superior.  (2000W de potência, ou mais).

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Day-to-Day

Questões sem resposta.

August 16, 2009

Tem certas perguntas que não trazem nada de bom. Tem certas coisas que é melhor não se pensar a respeito. Eu garanto: não vão levar a nenhuma conclusão agradável no momento.

“Ignorância é uma bênção.” – Nem sempre, mas em certos casos.